O Último Desenho – Capítulo 10

O ar na sala escondida parecia ter mudado. Clara sentia uma pressão leve nos ouvidos, como se tivesse mergulhado fundo demais. No centro do cômodo, iluminado apenas pela luz fraca que escapava da lanterna em sua mão, um pedestal de pedra se erguia solitário. Sobre ele, repousava um caderno de capa de couro envelhecido, intacto apesar do tempo.

Com as mãos trêmulas, Clara o abriu.

Não havia textos, anotações ou rabiscos dispersos. Apenas uma única imagem preenchia a página central: duas mãos, uma saindo da sombra, a outra da luz, finalmente se tocando. O gesto era sutil, quase reverente, como um reencontro aguardado por séculos.

Abaixo do desenho, a assinatura inconfundível de Elias.

Mas ao lado dela, em traço firme e recente, havia outra marca:
C. L.
Suas próprias iniciais.

Clara recuou um passo, os olhos arregalados. Como aquilo era possível? Ela não se lembrava de ter feito aquele desenho. E mesmo que tivesse… por que assinaria ali, naquele caderno que nunca vira antes?

Subitamente, uma vertigem tomou conta de seu corpo. A sala pareceu girar, as paredes pulsarem como se respirassem. O som ao redor sumiu, como se todo o mundo tivesse ficado suspenso por um segundo que durava demais. A lanterna caiu de sua mão, mas a luz permaneceu, vinda do próprio caderno.

Na última página, até então em branco, surgiram lentamente palavras, como se escritas por uma mão invisível:

“Quando os ciclos se fecham, as mãos se reconhecem. O que foi esquecido, retorna. O que foi separado, chama por união. Ela precisa lembrar, porque só ela pode atravessar.”

Clara sentiu algo antigo despertar dentro de si. Uma lembrança sem forma. Uma emoção que não sabia nomear. Um chamado, como um eco vindo de dentro do próprio espelho, e de dentro dela mesma.

O Último Desenho – Capítulo 10