O Vento a Saia e o Desejo Contido – Capítulo 30

Era fim de tarde no Reino de Veramor. O céu, tingido de dourado, espalhava luz por entre as folhas do pomar recém-regado. A brisa soprava mansa, mas teimosa, daquelas que parecem ter vontade própria. E foi ali, entre varais e sorrisos distraídos, que tudo aconteceu.

A Rainha cruzava o pátio com uma cesta de maçãs nas mãos e poesia nos passos. A saia leve, batizada pela primavera, dançava com o vento, revelando mais do que a formalidade real costuma permitir. O Rei, do outro lado do jardim, parou no meio do trajeto, entre a razão e o encantamento. Engoliu seco. Não por timidez, mas por reverência.

Ela, percebendo o silêncio súbito dele e sentindo o vento brincar com seus tecidos e intenções, lançou um olhar por sobre o ombro. Um olhar que conhecia o efeito que causava, e gostava disso.

— “Nem toda ventania é acidental, meu Rei.” disse com um meio sorriso, como quem semeia uma travessura na terra fértil da tarde.

Ele ajeitou o cinto da calça e o pulso do juízo. Não ousou avançar, mas também não recuou.

— “Se o vento for cúmplice, o desejo vira tempestade.”

Ela riu, sem pressa, e continuou andando, deixando para trás o perfume das maçãs, a dança da saia e um rastro de possibilidades.

Na varanda, o Rei suspirou. E pensou:

“Há quem lute contra o vento. Eu aprendi a amá-lo. Sobretudo quando ele passa por ela primeiro.”

O Vento a Saia e o Desejo Contido – Capítulo 30