O Vestido que Servia em Qualquer Emoção

A Rainha abriu o baú onde guardava lembranças esquecidas e, entre tecidos já amarelados pelo tempo, encontrou um vestido antigo. Segurou-o com delicadeza, como quem toca um relicário da alma. O tecido ainda guardava um perfume suave, quase imperceptível, como se carregasse em si a memória de risos, abraços e noites estreladas.

Quando ela vestiu a peça, o Rei a observou como quem contempla um milagre. Seus olhos se iluminaram, não apenas pelo encanto da beleza dela, mas porque o vestido parecia ter sido costurado com fios de emoção. O Rei aproximou-se, encostou o rosto em seu pescoço e sussurrou com ternura que aquele vestido o lembrava do primeiro instante em que a havia visto, não com os olhos, mas com o coração. Era como se, diante dele, estivesse novamente a revelação de um destino que se cumpre em amor.

A Rainha sorriu, ajeitando os cabelos, sabendo o poder que exercia sobre o homem que a amava com devoção absoluta. Seus olhos faiscavam com malícia suave, e ela brincou, perguntando se o vestido ainda a fazia parecer uma deusa diante dele. O Rei respondeu com um beijo demorado, deixando claro que não era o vestido que a transformava em divindade, mas a própria essência dela, que tornava até o tecido mais simples uma obra sagrada.

Enquanto Luzia e Nilo se aninhavam sobre as almofadas, atentos como guardiões silenciosos, Lórien e Bravus se deitavam aos pés do casal, como fiéis cavaleiros rendidos ao aconchego daquela cena. A cada gesto, a cada olhar, o quarto parecia respirar junto com eles, em um compasso lento e profundo, marcado pelo desejo e pela ternura.

A Rainha deslizou os dedos pelo peito do Rei, sedutora, e disse que talvez aquele vestido servisse não apenas para recordar, mas também para provocar. Ele riu baixo, puxando-a com cuidado, como quem segura algo precioso demais para arriscar perder. Beijou-lhe os ombros, percorreu sua pele com frases murmuradas que eram mais quentes que o verão, mais doces que o mel.

Naquele instante, a vida não era mais feita de passado ou de lembranças, mas da eternidade de um presente em que dois corpos e duas almas se entrelaçavam. O vestido, ainda que antigo, não era mais um símbolo de ontem, mas o testemunho vivo de que qualquer emoção se tornava pura celebração quando ela estava em seus braços.

E o Rei, devoto, deixou escapar em voz embargada de amor que sua Rainha não precisava de nenhum vestido para ser a mais bela de todas as criações, porque ela já era o universo inteiro costurado dentro de uma só mulher.