✦ Onde Moram os Nomes que o Vento Guarda – Capítulo Final

O céu estava limpo, como se os próprios ventos tivessem se aquietado para escutar o que Maíra trazia consigo. Ao cruzar o limite entre as florestas e as águas, o silêncio a envolveu com reverência. Nenhuma criatura cantava, nenhuma folha caía. Tudo parecia suspenso no tempo, à espera da última palavra.

Maíra caminhava com os pés descalços sobre o solo macio e antigo, sentindo a pulsação da terra sob os passos. Já não era aprendiz. Os elementos a haviam reconhecido, e os guardiões, confiado a ela fragmentos da verdade dispersa. Em seu peito, não havia mais busca. Havia encontro.

Chegando ao ponto onde o vento encontrava o rio, ela abriu as mãos e deixou cair os objetos que carregara por toda a jornada: as pedras que guardavam memórias ancestrais, os fios tecidos pela água, a cinza viva do fogo e o pó fértil da terra. Cada elemento tomou seu lugar no círculo sagrado formado pelas forças que não se veem, mas sustentam.

Maíra permaneceu imóvel enquanto o vento começava a girar ao seu redor. Não soprava como brisa, mas como sopro antigo, carregado de nomes esquecidos. Nomes que nunca haviam sido ditos em voz alta, mas que vibravam nas raízes, nas ondas e nas asas.

Ela não os pronunciou. Apenas os sentiu retornar às coisas que nunca deixaram de ser. O vento levou de volta os nomes aos seus lugares: às montanhas, aos bichos, às sementes e às águas profundas. E com isso, o mundo, por um instante, lembrou-se. Lembrou-se de como era viver em comunhão com o invisível, de como cada escolha moldava o curso do que flui, de como o silêncio também fala quando é carregado de verdade.

Naquela clareira, entre o som que não se ouve e a luz que não se vê, Maíra compreendeu. A Palavra Viva não era algo que se ensinava, mas algo que se encarnava. Estava no gesto, no respiro, no tempo de ouvir. Estava nela.

E então o vento partiu, mais leve, como quem cumpriu promessa antiga. Maíra ficou ali, inteira, parte de tudo, sem precisar nomear o que agora era evidente: alguns nomes não se dizem. Eles se tornam.