Onde os Dias se Apagam

O vento da manhã sopra frio quando Clara decide sair em busca de respostas. As cartas continuam chegando, e cada palavra de Elias parece aproximá-la de um limite invisível entre a razão e o impossível. Há algo dentro dela que pede verdade, mesmo que doa.

A cidade parece diferente. As ruas que percorre parecem carregadas de uma melancolia antiga, como se cada esquina guardasse o eco de um tempo perdido. Ela caminha até o prédio antigo onde funcionava o arquivo municipal. O ar cheira a papel envelhecido, a histórias que se recusam a morrer.

Os olhos de Clara percorrem registros amarelados, nomes, datas, retratos desbotados. Passa horas entre papéis e poeira, até que encontra o nome dele: Elias Moura. O coração dispara. As mãos tremem. Ali está o registro de nascimento, e logo abaixo, o inevitável registro de óbito.

A data é de oito anos atrás.

Clara sente o chão desaparecer sob os pés. As palavras no papel parecem se mover, distorcendo-se como se o tempo tentasse esconder a verdade. Elias existiu. Viveu, amou, e morreu. No entanto, continua escrevendo para ela.

O relógio da parede marca as horas, mas o tempo já não faz sentido. Ela tenta lembrar o rosto dele nos sonhos, o toque, o som da voz. Tudo se mistura às lembranças que não sabe se são suas ou criadas pela ausência. O real e o imaginário se confundem, e o presente parece desbotar diante do que sente.

Enquanto sai do arquivo, a luz do entardecer a envolve como um véu. As ruas estão silenciosas, e por um instante ela sente o ar mudar, como se o mundo respirasse junto com ela. Naquele instante, compreende que o tempo não é uma linha, mas um círculo imperfeito, onde o amor pode continuar existindo mesmo depois que os dias se apagam.

Ao voltar para casa, encontra uma nova carta sobre a mesa. O papel é recente, a tinta ainda úmida. As primeiras palavras a fazem estremecer: “Eu sei que você me encontrou.”