Os Visitantes do Entremundos – Capítulo 24

A noite desceu com um silêncio espesso, como se o tempo hesitasse em avançar. Clara, incapaz de dormir após os últimos acontecimentos, permaneceu sentada diante da janela do sótão, observando a escuridão do quintal.

Foi então que as viu.

Três figuras encapuzadas surgiram entre as árvores, como se tivessem se materializado da própria sombra. Moviam-se devagar, com passos sincronizados, e seus mantos oscilavam sem vento. Não tinham rosto visível — apenas o vazio sob os capuzes.

Elas pararam diante da casa, em linha reta, olhando para cima. Clara congelou. Não precisava de mais do que um instante para perceber que os olhos invisíveis estavam cravados nela.

Cada figura segurava algo.
A da esquerda, o anel de vidro azul.
A do centro, a chave de marfim.
A da direita, o último caderno de Elias.

Em uníssono, começaram a sussurrar. Não era uma língua comum, mas Clara compreendeu o significado como se viesse de dentro dela:

“Três vestígios, três escolhas. Um véu, uma travessia. O que foi tocado não pode ser desfeito.”

As palavras vibraram em seus ossos. De repente, as figuras ergueram os objetos, e sumiram, dissolvendo-se como fumaça no breu.

Clara recuou da janela, ofegante. No vidro, deixada por dentro, havia uma marca de mão. Estava molhada. E não era a dela.

Os Visitantes do Entremundos – Capítulo 24