Outonos de Espera

O outono chegou como quem sussurra segredos antigos. As folhas caíam devagar, como se cada uma fosse uma lembrança despida, uma saudade que se soltava do peito. Ela caminhava entre tons de cobre e dourado, sentindo o vento tocar sua pele como mãos que conheciam seu corpo sem nunca tê-lo tocado. Ele, em outro lugar, sentia o mesmo frio suave, como se o ar trouxesse o perfume dela misturado à brisa.

As estações têm esse poder de despir o que é excesso. O verão arde, o inverno endurece, mas o outono… o outono prepara. Ele afina os sentidos, silencia o mundo, e deixa o corpo em estado de espera. Ela se recolhia em si, mas não por tristeza. Era preparação. Era ritual. Cada gesto seu era uma oferenda ao tempo, cada pensamento, uma oração para o reencontro.

Ele escrevia menos, mas sentia mais. As palavras se tornavam gestos invisíveis, e os gestos, promessas silenciosas. O corpo dele ansiava, mas não com pressa. Era um desejo maduro, como fruta que sabe o momento certo de cair. E ela, ao fechar os olhos, sentia o toque dele nas folhas que roçavam sua pele, nos dias que se encurtavam, nas noites que se tornavam mais íntimas.

Outonos são feitos para quem espera. Para quem entende que o amor não se apressa, que o prazer não se força, que o reencontro precisa de tempo para ser sublime. E eles esperavam assim — com o corpo em brasa e a alma em paz. Porque sabiam que o tempo não os separava. Apenas os preparava.

E quando enfim o inverno se despedisse, quando a primavera trouxesse o perfume do toque, eles se encontrariam não como quem chega, mas como quem retorna. Porque o amor deles já vivia ali, entre folhas caídas e promessas suspensas no ar.