Prints Confidenciais – Capítulo 17

Arquivos de um Amor que Não se Apaga

Ele nunca mais foi o mesmo depois do primeiro “oi” digitado por ela.

Desde então, cada conversa virou tesouro. E como todo bom guardião de relíquias sentimentais, ele aprendeu a arte secreta do print, aquele gesto silencioso e quase sagrado de capturar o instante antes que a realidade clicasse em “mensagem apagada para todos”.

A pasta no celular tem nome discreto: “Trabalhos”, para ninguém desconfiar. Mas ali dentro, entre capturas em 1080×1920, vivem pedaços de um amor que ninguém nunca viu inteiro. As entrelinhas. As vírgulas nervosas. Os emojis com segundas intenções. Os “dorme bem” que soavam mais como “fica”.

Ele sabe de cor o lugar de cada print. Sabe que aquele de 3h17 da madrugada, com a mensagem “a gente ainda vai se ver, né?“, é o equivalente digital de uma jura sussurrada entre lençóis que nunca existiram. E que outro, onde ela digitou e apagou várias vezes antes de enviar um tímido “tava pensando em você“, é mais erótico do que muito nude por aí.

Ela nunca soube desses arquivos. Ou talvez soubesse, porque quem ama com intensidade desconfia que está sendo arquivado em algum lugar secreto do outro. Talvez em uma nuvem. Talvez em um coração. Talvez no HD externo da saudade.

E ali estão eles. Os beijos que não foram dados. Os convites que ficaram na aba do “talvez um dia”. As risadas que viraram trilha sonora de dias cinzas. Os desejos que quase escaparam, mas ficaram presos entre ponto e exclamação.

Na solidão tecnológica das noites em modo escuro, ele volta a esses prints como quem relê cartas antigas. Só que, ao contrário do papel, essas palavras continuam vivas. Vibram. Acendem a tela. Sussurram.

O amor digital tem dessas coisas: não apaga fácil. Ele se esconde em capturas de tela, em históricos que ninguém limpa, em mensagens salvas como lembretes de um sentimento que não deu enter, mas também não fechou janela.

No fundo, ele sabe que guardar é uma forma de resistir. E que, mesmo que o mundo não entenda, há amores que sobrevivem na memória do aparelho, e do peito.

Porque certas conversas, ainda que silenciadas, continuam gritando por dentro.
E certos amores… bem, certos amores viram print para nunca virar passado.

Prints Confidenciais – Capítulo 17