Quando o Tempo Dobra

Clara flutuava em um espaço que não podia definir. Não havia chão nem céu, apenas uma extensão de luz difusa, como se o mundo tivesse esquecido suas formas. Tudo parecia silencioso, mas era um silêncio vivo, cheio de pulsações invisíveis. Ela não sabia se estava sonhando ou se havia cruzado algum limite entre o real e o que ficara além.

De repente, uma figura começou a emergir no meio daquela bruma. Era Elias. O olhar dele trazia uma ternura antiga, e o tempo parecia dobrar em volta dos dois, misturando passado e presente em um mesmo instante suspenso. Clara tentou se lembrar de como o conhecia, mas as imagens escapavam de sua mente como água entre os dedos. Ainda assim, o corpo reconhecia o dele. O coração reconhecia.

Elias se aproximou lentamente. A distância entre eles era feita de memórias desfeitas, de palavras que já não pertenciam a nenhum idioma. Ele a olhou com uma tristeza serena, como quem entende que o amor, por mais profundo que seja, não é suficiente para deter o esquecimento.

Clara estendeu a mão, buscando tocá-lo. Por um breve instante, sentiu a pele dele, quente e real. Mas logo a imagem começou a se fragmentar, o rosto de Elias rachando como vidro ao sol. Ele tentou dizer algo, mas a voz se perdeu no vento branco que os envolvia.

Ela quis gritar, quis correr até ele, mas o espaço em volta começou a se partir em pedaços luminosos. As memórias que restavam se curvavam sobre si mesmas, formando espirais que a puxavam para dentro do esquecimento. Elias ergueu o olhar uma última vez, como quem promete esperar, e desapareceu na luz.

O tempo se dobrou sobre ela, e Clara sentiu que já havia vivido aquele momento antes, em outra forma, em outro sonho. Tudo se repetia, mas nada era igual.

Quando despertou, estava deitada em uma cama branca, com o corpo leve e o coração inquieto. Não sabia o que havia sonhado, nem o que significava aquela presença que ainda lhe aquecia o peito. Apenas sabia que algo dentro dela ainda chamava por um nome que não conseguia lembrar.