Silêncio em Azul

O dia amanhece envolto em um azul profundo, como se o mundo inteiro respirasse dentro de um sonho. Clara desperta com a sensação de que algo mudou, embora nada ao redor pareça diferente. O ar está denso, carregado de uma quietude que ultrapassa o simples silêncio. É como se a casa inteira tivesse aprendido a ouvir o que ela tenta esquecer.

Ela caminha até a janela e observa o céu sem nuvens, mas tem a impressão de que dentro de si uma tempestade se prepara. O silêncio à sua volta se torna quase uma presença física, uma substância invisível que a envolve e pulsa ao ritmo do seu coração.

Enquanto se veste, sons distantes parecem emergir de algum lugar entre o passado e a imaginação. Ecos de risos. Um toque breve. O murmúrio de uma promessa dita com voz trêmula. As lembranças chegam em fragmentos luminosos, mas se desfazem tão rápido quanto surgem, dissolvendo-se como névoa sobre o mar.

Clara tenta agarrar cada uma dessas imagens antes que escapem. Um sorriso. Um olhar. Um corpo próximo demais. Tudo evapora, deixando apenas o rastro de uma ternura antiga, impossível de nomear.

A cor azul domina o dia, o lençol, o vestido que escolhe, até a luz que atravessa as janelas. É uma cor que parece falar com ela, suave e triste, lembrando-lhe de algo que perdeu sem saber quando. Cada sombra azul é um sussurro de Elias, cada raio de luz é um vestígio de um amor que ainda respira.

Ao cair da tarde, o silêncio permanece, mais intenso, mais íntimo. Clara fecha os olhos e sente o toque do vento contra o rosto, como se uma lembrança quisesse alcançá-la. Por um instante, ela quase acredita ouvir uma voz chamando seu nome, leve e distante. Mas quando abre os olhos, há apenas o azul vasto, calmo e cheio de ausência.