Stalkeando em Modo Invisível – Capítulo 22
📘 Temporada 2 — Atualizações de Amor e Outros Downloads Lentos

É sempre de madrugada.

Quando o mundo silencia suas notificações e só o coração continua online, ele abre o navegador em modo anônimo.
Ali, sem rastro nem culpa formalizada, repete um ritual secreto que já virou quase fé: visita o perfil dela como quem acende uma vela no altar de uma saudade não assumida.

Percorre cada nova curtida, como se decifrasse pistas em um mapa sentimental.
Um novo post? Lê entrelinhas como quem lê bilhetes de amor esquecidos no tempo.
Stories? Vê com o som desligado, como se não escutar fosse suficiente para não sentir.
As reações dela nas fotos dos outros? Uma espécie de tortura suave que ele aceita como penitência.
Afinal, amar à distância, às vezes, é isso: um voyeurismo emocional onde o toque se dá com os olhos e a posse é só uma hipótese.

Ele não curte. Não comenta. Não aparece.
Mas está ali.
Presente na ausência.
Habitando aquela borda entre o desejo e o respeito, entre a curiosidade e o cuidado de não invadir o espaço dela com mais do que um olhar não declarado.

Ele sabe que isso é meio errado.
Ou talvez só frágil.
Mas é também humano esse impulso de saber dela, mesmo que só de longe, mesmo que de canto, mesmo que por detrás da cortina do modo invisível.

E assim ele segue, como um fantasma carinhoso.
Sem like, mas cheio de vontade.
Sem emoji, mas transbordando intenção.
Como se olhar já fosse uma forma silenciosa de amar e não ser visto, o preço íntimo por ainda não poder ser parte.

Porque às vezes o que mais se deseja não é nem a foto, nem o feed, nem a legenda.
É só ela, rindo de verdade, e dizendo: “te vi aí… me stalkeando de leve”.

Mas isso, por enquanto, só acontece nos sonhos dele.
E nos modos invisíveis do amor não vivido, mas sempre online.

Stalkeando em Modo Invisível – Capítulo 22