Um Lugar Chamado Ontem

A noite parecia feita de maresia e lembranças difusas. Clara sonhava. No sonho, caminhava por uma praia envolta em névoa, onde o tempo parecia não existir. O mar se movia com lentidão, como se também tivesse esquecido o ritmo das horas. A areia sob seus pés era morna e suave, e o vento trazia um perfume que lhe parecia familiar, ainda que ela não soubesse dizer por quê.

Adiante, havia uma figura. Um homem parado perto da água, de costas para ela. Ele olhava o horizonte, imóvel, como se esperasse alguém. Clara sentiu o coração acelerar. Não sabia quem era, mas algo dentro dela reconhecia aquele instante como se já o tivesse vivido mil vezes.

Ela começou a caminhar em direção a ele. A cada passo, o ar parecia mais denso, e a paisagem se curvava em volta, como se o mundo inteiro respirasse com o ritmo de seu coração. Quando estava prestes a tocá-lo, o homem virou-se lentamente. O rosto era sereno, os olhos profundos e tristes, como o mar em dias de despedida.

O nome veio antes da lembrança. Surgiu em seus lábios como um sussurro involuntário. Elias.

O som ecoou, vibrando no ar, e tudo começou a se desfazer. O mar recuou, o vento cessou, e a figura diante dela se transformou em luz. Clara tentou correr, tentou chamá-lo de novo, mas a palavra se perdeu no vazio que se formava ao redor.

Acordou sob a luz do amanhecer. O quarto estava mergulhado em silêncio, e o lençol ainda guardava o calor do sonho. Ficou alguns instantes olhando o teto, o coração batendo rápido, a mente envolta em uma estranha mistura de calma e saudade.

Não sabia quem era Elias. Não sabia por que aquele nome a fazia chorar. Mas algo dentro dela dizia que ele era real — e que, em algum lugar entre o ontem e o esquecimento, alguém ainda a esperava à beira do mar.