A flor não sonha com a abelha. Ela apenas floresce.
Ela é do tipo pragmática. Calculista, talvez. Daquelas que pisam com cuidado, medindo o terreno antes de qualquer passo mais fundo. Está sempre na dela, resguardada. Uma fortaleza elegante. Durona, sim. Mas… basta um filme romântico com final feliz pra vê-la desabar. Chora, suspira, se entrega às histórias de amor das telas como quem esconde, atrás das lágrimas, um coração que só quer viver aquilo tudo também.
Dá pra imaginar ela organizando gavetas no domingo de manhã, fazendo listas de metas semanais, tomando suco natural enquanto ignora solenemente qualquer declaração melosa. Ela parece ser dessas que não pedem licença, mas dominam o ambiente. Uma mulher encantadora com um olhar que já avisa: “Não insista. Não sonhe. Não espere de mim o que eu não prometi.”
Não sei se ela é assim, é só uma imaginação que tenho diante da impressão que ela passa: Organizada, firme, e até durona sim, pelo menos um pouco.
E ainda assim… algo dizia que aquela armadura era só fachada. Porque quem chora com histórias de amor, se diz emocionada e sem palavras com textões ridículos no Facebook, se emociona com coisas que escrevo mas que acredita que são apenas idealizações minhas, não é fria. É só alguém que, talvez, tenha se decepcionado demais. Que aprendeu a se proteger. E que no fundo só quer amar, e ser amada com a intensidade de um final de filme da Meg Ryan.
E eu? Eu era só um espectador. Um admirador discreto. Do tipo que prefere contemplar a presença do que arriscar a ausência. Havia nela uma beleza silenciosa, que não fazia alarde, mas que também não pedia licença pra se impor. Meu sentimento era platônico, sim, mas insistente. Crescia calado e, mesmo que eu tentasse podá-lo, ele brotava de novo. Teimoso.
Ela não parecia estar buscando ninguém. Estava ocupada demais sendo ela mesma. Protegida. Estratégica. Como quem já passou pela guerra e saiu viva, mas não ilesa. E mesmo assim, algo em mim insistia em ir até ela. Era como tentar fugir de um ímã com defeito: quanto mais eu corria, mais perto eu ficava.
Tentei imaginar formas de me aproximar. Um bilhete? Um gesto? Um comentário numa página do Face que ela seguia? Mas tudo parecia forçado, meio bobo. Algo dentro de mim dizia: “Não adianta empurrar o rio.” Então fiz o que me pareceu mais sensato: cuidei de mim. Simples assim. Desabrochei.
Citação: Omg, que meus amigos não saibam disso, eles não entenderiam esse negócio de ser flor, florescer, desabrochar, … rs
Não foi pra impressioná-la. Foi porque amar, ainda que em silêncio, me fez florescer. Quis ser alguém que emana presença, mesmo à distância. E talvez, só talvez, isso tenha tocado algo nela.
Ela começou a se mostrar. Baixou a guarda em alguns artigos. Comentava minhas postagens, de forma sutil no início, elegante como ela é. Depois, surgiram risadas em posts bobos, memes infames. Isso definitivamente não estava no roteiro. Era como se ela, aos poucos, estivesse se permitindo. Ou me testando. Eu não sabia.
Só sei que, em algum momento, me empolguei. Achei que estava indo bem. Descobri o caminho até ela! Mas aí… chão. Era tudo mais complicado. Ela continuava se protegendo bem, e eu…, um completo amador nesses assuntos…, desanimei. Acredita? Desanimei de algo que talvez estivesse apenas começando nos bastidores do universo, mas eu nem desconfiava. Então… lá atrás, o cara andando distraído lá do acaso, pois é…, como sempre!!!
Foi então que me lembrei de uma frase: “A flor não sonha com a abelha. A flor desabrocha e a abelha vem.”
Talvez o amor seja isso. Não correr atrás. Não insistir. Não tentar convencer ninguém. Mas ser. Simplesmente ser. Ser de verdade. Ser inteiro. Ser flor.
Citação: Fodeu!!! Virar Flor? Agora ela tem uma arma contra mim. Se meus amigos souberem disso, não importa o contexto, eles simplesmente vão ignorá-lo. Tô perdido!!!!!!!
Eu até stalkeava o perfil dela de vez em quando, mas era quase uma missão impossível: ela raramente postava alguma coisa. Aí, do nada, alguma chavinha em mim virou. Talvez nela também, vai saber. Comecei a postar umas coisas meio filosóficas, tipo como é bom ser sozinho, curtir a própria companhia… essas vibes, mas nada com a intensão de atraí-la, falava de mim, e era a real. Até que…., e pá, ela curtiu com um “amei”. A primeira vez. Quase enquadrei a notificação.
A cada texto meu, ela vinha. Às vezes com um comentário cheio de sutilezas, às vezes com um conselho escondido nas entrelinhas. Outras vezes, só com um apoio silencioso, mas cheio de presença.
Aos poucos, nossa interação virou rotina. Um carinho ali, uma gentileza aqui. Ela começou a me tratar com uma doçura tão cuidadosa, que aquilo tudo me encantava mais e mais. Mas e eu? Como é que um sujeito inexperiente em assuntos do coração poderia conquistar uma mulher tão inteira?
A verdade é que, sem perceber, já estava me apaixonando. Não por algo idealizado, mas pelo modo como ela me tratava, pela elegância que transbordava mesmo nas menores coisas. Ser bem tratado por alguém assim… mexe com a cabeça da gente, ainda mais com a de um amante amador como eu.
Mas talvez… talvez eu já tivesse aprendido a ser flor. E, sendo flor, quem sabe, só quem sabe, ela fosse, aos poucos, sentindo o perfume.
“A flor não sonha com a abelha. Ela apenas floresce.” – Parte 1
Robledo Gonzalez Costa
“A flor não sonha com a abelha. Ela apenas floresce.” – Parte 2