✦ O Brilho das Lágrimas Bem-vindas – Capítulo 44

A casa da bruxa ficava entre a névoa e o silêncio, no limite onde o mundo parecia não querer mais continuar. Não havia placas, nem trilhas. Quem chegava até lá não vinha por mapas, mas por cansaço. Eram almas exaustas que já não precisavam de respostas, apenas de um lugar onde pudessem, finalmente, chorar.

Ela os recebia sem perguntas. Olhava com olhos de tempo antigo, deixava a porta entreaberta, servia um chá quente e esperava. Nenhum som quebrava o momento. O choro chegava manso ou em tempestade, mas sempre vinha. E quando a primeira lágrima caía no chão de pedra, algo extraordinário acontecia.

Cada gota se transformava em um pequeno cristal luminoso, delicado como se tivesse sido esculpido por anjos invisíveis. A bruxa os recolhia com cuidado, guardando-os em frascos transparentes alinhados em estantes curvas. Ali, os sofrimentos não eram apagados, mas respeitados. Cada lágrima virava memória sagrada, jamais desperdiçada.

Mais tarde, quando a pessoa partia — mais leve, não por ter esquecido, mas por ter sido vista — a bruxa soprava um encantamento sobre os frascos. Os cristais então desapareciam suavemente, como se tivessem cumprido um propósito. E era verdade.

Em algum outro canto do mundo, onde alguém desabava em solidão ou pensava em desistir, uma brisa suave tocava a pele, um pensamento de consolo surgia do nada, ou uma mão amiga aparecia no momento exato. Ninguém sabia de onde vinha esse alívio, mas a bruxa sabia. Eram as bênçãos das lágrimas que haviam sido bem-vindas.

Naquela casa escondida entre véus e sombras, o choro não era fraqueza. Era cura. E chorar ali era um ato de coragem silenciosa. Pois há dores que não querem conselhos, só espaço para existir.

E no brilho daquelas lágrimas, o mundo ia sendo, aos poucos, restaurado.