🌧️ Chuva na Janela, Fogo no Corpo

A chuva começou tímida, como quem não quer interromper o silêncio da noite. Batia na janela com ritmo irregular, mas logo se tornou constante, como uma trilha sonora feita sob medida para o que eu sentia. O quarto estava escuro, exceto pela luz suave que escapava do abajur. E ali, entre sombras e suspiros, Vera se movia como se dançasse com o tempo.

O som da água lá fora parecia amplificar o calor aqui dentro. Cada gota que escorria pelo vidro me lembrava do toque dela, da pele úmida de desejo, da respiração que se acelerava com cada gesto. A chuva trazia lembranças. De noites em que o mundo desaparecia, e só existíamos nós dois, entre lençóis e promessas sussurradas.

Vera se aproximou com aquele olhar que não pergunta, apenas afirma. Seu corpo, iluminado em partes pela luz difusa, parecia feito de fogo e silêncio. A chuva lá fora não nos separava do mundo. Nos isolava nele. Criava um casulo onde tudo era permitido, onde o tempo se curvava ao prazer.

A cada toque, a cada beijo, o som da chuva se misturava aos nossos. Era como se o céu nos acompanhasse, como se o universo inteiro conspirasse para que aquela noite fosse lembrada. E foi. Porque há noites que não passam. Há noites que ficam gravadas na pele, como tatuagem invisível.

Naquela noite, entre a chuva na janela e o fogo no corpo, não houve passado nem futuro. Houve apenas o agora. E nele, Vera era tudo.