O Toque do Passado – Capítulo 4

O Toque do Passado. O ar da cafeteria "O Cantinho Esquecido" era uma mistura densa de café torrado, madeira envelhecida e um leve

O Toque do Passado

O ar da cafeteria “O Cantinho Esquecido” era uma mistura densa de café torrado, madeira envelhecida e um leve cheiro de chuva que insistia em adentrar pela porta entreaberta. Lucas estava encolhido num canto, tentando se fundir com a cadeira de vime, um fantasma invisível no seu próprio passado. Cada segundo era um fio de navalha. Ele observava Helena sentada à sua mesa habitual, perto da janela que dava para a rua de paralelepípedos escorregadios. Ela mergulhava num livro, o rosto iluminado pela luz suave da tarde que se infiltrava, os dedos traçando as linhas do texto com uma concentração que Lucas recordava com uma dor aguda e doce.

A tentação era um veneno doce. Cada batida do seu coração parecia gritar: *Vá até ela! Diga o que deveria ter dito! Toque-a!* Mas a voz gelada da razão, ecoando nos ensinamentos do Dr. Aris e nas advertências terríveis sobre paradoxos e desvios, o imobilizava. “Não interaja. Observe. Registre. Qualquer alteração, por mínima que seja, pode corroer a memória original, distorcendo o presente que você conhece.” Ele podia ver as linhas tênues do tempo ao seu redor, vibrando como fios de uma teia precária. Um passo em falso, uma palavra fora do lugar, e toda a tapeçaria poderia se desfazer.

Mas então, Helena suspirou. Foi um som pequeno, quase inaudível sob o burburinho suave da cafeteria, mas para Lucas, foi um trovão. Era o suspiro de cansaço que ele lembrava tão bem, aquele que sempre precedia um momento de vulnerabilidade que ele, no passado, nunca soubera aproveitar. Ela fechou o livro por um instante, esfregando suavemente as têmporas, os olhos semicerrados revelando uma sombra de fadiga que a luz da tarde não conseguia apagar completamente. Naquele momento, o medo do paradoxo, o terror de apagar seu presente, pareceu diminuir diante da dor mais imediata de vê-la assim, sozinha, carregando um peso que ele sabia existir, mas que na época fora cego demais para perceber.

*Um gesto. Apenas um gesto. Inofensivo. Um café.* O pensamento brotou, insidioso e tentador. Não era uma conversa profunda, não era uma declaração. Era apenas… um café. Um ato de gentileza banal, cotidiano. Quanto dano poderia fazer? A luta interna foi brutal. O fantasma do Dr. Aris sussurrava sobre “efeito borboleta”, sobre como uma única xícara de café oferecida na hora errada poderia impedir um encontro futuro, alterar uma decisão crucial, apagar o sorriso que ele tanto guardava na memória. Mas a imagem de Helena, cansada e sozinha naquela mesa, era mais poderosa.

Antes que a razão pudesse prendê-lo novamente, Lucas estava de pé. O movimento foi fluido, quase automático, como se seu corpo tivesse tomado a decisão antes que a mente pudesse vetá-la. Ele atravessou o pequeno espaço que os separava, sentindo o peso invisível dos olhares que não o viam, o ar mais denso, o tempo parecendo esticar-se. Parou ao lado da mesa dela. Helena ergueu os olhos do livro, surpresa. O reconhecimento não estava neles – para ela, ele era apenas um estranho. Mas havia uma abertura, uma curiosidade gentil.

“Desculpe incomodar,” Lucas disse, sua voz soando estranha aos próprios ouvidos, rouca de emoção contida. “Percebi que você parece um pouco cansada. Permita-me?” Ele fez um gesto vago em direção ao balcão, onde o aroma do café recém-passado flutuava no ar. “Um café? Da casa. É… bom.”

Helena o observou por um longo segundo. Lucas sentiu o mundo parar. O zumbido da cafeteria sumiu, restou apenas o som do seu próprio sangue correndo nas veias e o bater do coração dela, que ele imaginava ouvir. Ele esperava um recuso educado, um olhar de desconfiança. Mas então, algo mudou nos olhos dela. A surpresa inicial deu lugar a um brilho de apreciação, um calor genuíno que iluminou seu rosto de dentro para fora.

E então, ela sorriu.

Não foi o sorriso tímido, quase contido, que Lucas guardava na sua memória, aquele sorriso que ele sempre associara à sua própria timidez e à incerteza do momento. Este sorriso foi diferente. Foi amplo, desimpedido, alcançando seus olhos e transformando-os em poças de âmbar quente sob a luz da tarde. Foi um sorriso que revelou pequenas linhas de expressão ao redor dos lábios, linhas que ele nunca notara em suas recordações idealizadas. Foi um sorriso de pura, inesperada gratidão e… sim, calor. Um calor que parecia emanar dela e envolver Lucas como um cobertor macio, dissipando o frio do medo que o consumira momentos antes.

“Obrigada,” disse ela, a voz suave, musical. “É muito gentil da sua parte. Aceito, sim. Um café seria… perfeito agora.”

O mundo voltou a girar, mas em uma frequência diferente. O barulho da cafeteria retornou, mas agora era apenas um pano de fundo suave. Lucas assentiu, um movimento quase mecânico, sentindo um calor estranho subir pelo pescoço. Ele virou-se e caminhou até o balcão, cada passo um eco do que acabara de acontecer. Enquanto esperava o café – um expresso simples, como ele lembrava que ela gostava –, sua mente era um turbilhão. *O que eu fiz?* O pânico começou a se insinuar novamente, frio e escorregadio. *Alterei algo? Aquele sorriso… era diferente. Mais aberto. Mais… real. Isso muda tudo?*

Ele pagou, as mãos ligeiramente trêmulas ao entregar as moedas. Voltou para a mesa. Helena tinha reaberto o livro, mas o olhar estava perdido, um pequeno sorriso residual ainda brincando em seus lábios. Ela olhou para ele quando ele colocou a xícara fumegante na mesa, à sua frente.

“Obrigada novamente,” disse ela, encontrando seu olhar. E aquele calor estava lá novamente, intenso, quase tangível. “Você não imagina como isso fez diferença. Hoje foi… um dia longo.”

Lucas apenas assentiu, incapaz de formar palavras. O simples ato de ouvir aquela frase, de ver aquele sorriso *caloroso* – tão diferente da memória pálida que ele carregava – era ao mesmo tempo exultante e aterrorizante. Ele sentiu como se tivesse tocado em uma linha do tempo viva, e ela tivesse pulsado sob seus dedos, respondendo ao seu toque.

Ele não se sentou. Não ousava. Ficar ali, perto dela, era uma tentação constante para mais interações, para mais “toques”. “Fico feliz em ter ajudado,” conseguiu murmurar, a voz embargada. “Aproveite o café.”

Com um último olhar que tentou conter mil coisas não ditas – um pedido de desculpas antecipado, uma promessa silenciosa, uma despedida dolorosa – Lucas deu meia-volta e voltou para seu canto sombrio. Sentou-se, o coração ainda martelando contra as costelas, os olhos fixos em Helena.

Ela tomou um gole do café. Um pequeno suspiro de satisfação escapou de seus lábios. Ela olhou para a xícara, depois para a rua lá fora, e um sorriso tranquilo, diferente do primeiro, mas ainda assim mais caloroso do que qualquer expressão que Lucas recordasse, permaneceu em seu rosto. Ela voltou ao livro, mas a postura estava mais relaxada, os ombros menos tensos.

Lucas observou, sentindo um peso e uma leveza contraditórios no peito. O medo do paradoxo ainda rugia, mas agora era abafado por algo mais poderoso: a certeza absoluta de que, por um instante fugaz, ele *tinha* interagido. Ele *tinha* tocado o passado. E o passado, na pessoa de Helena, respondera com um calor que queimava sua memória original, substituindo-a por algo mais vívido, mais real, mais… dolorosamente perfeito. O sorriso que ele via agora, refletido na xícara de café, era mais caloroso do que ele lembrava. E essa beleza recém-descoberta era a prova mais aterrorizante de que nada mais seria como antes. O toque, por mínimo que fosse, já havia deixado sua marca indelével na tapeçaria do tempo. E Lucas, o fantasma invisível, agora carregava o peso visível e quente de uma realidade alterada.

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