Maelina – Capítulo 5 – Ecos da Verdade

A floresta parecia segurar a respiração naquela noite. A névoa não era mais um véu espesso, mas sim um sussurro que acariciava os galhos com reverência. Elia, a filha da curandeira, caminhava devagar entre as árvores, com os pés descalços tocando a terra fria e úmida. Nas mãos, um ramo de lavanda e uma vela protegida por um pequeno vidro trincado. A chama dançava, como se reconhecesse o caminho.

Ela não trazia oferendas em busca de bênçãos. Trazia dúvidas. E coragem.

Quando chegou à clareira onde a cabana se escondia, viu a silhueta de Maelina diante do fogo. O calor do caldeirão fazia o ar ondular, e um vapor violeta subia, perfumado por ervas que Elia não soube nomear. A velha não se virou ao ouvir os passos. Apenas falou:

— Curiosa, não assustada. — Sua voz era seca como galho de inverno, mas havia nela a firmeza de quem já sabia o que viria.

Elia engoliu em seco e aproximou-se com respeito.

— Vim… não para pedir, mas para entender. — Sua voz saiu fraca, mas verdadeira.

Maelina enfim a olhou. Seus olhos pareciam conter as estações, os ciclos da terra, o peso de séculos em silêncio.

— Eles acham que os amaldiçoei — disse, mexendo lentamente o conteúdo do caldeirão. — Dizem que minha raiva envenenou os dias.

— E foi isso? — Elia perguntou, sem desviar o olhar.

Maelina sorriu. Não com desdém, mas com a ternura melancólica de quem já viu a ingratidão repetir-se como colheita ruim.

— Não, criança. Só os deixei sentir o mundo como ele é, sem a minha mão invisível.

O silêncio que se seguiu foi mais eloquente que qualquer feitiço. Elia entendeu, então, que o verdadeiro poder de Maelina nunca estivera nos rituais, mas na compaixão silenciosa com que protegia aqueles que a rejeitavam.

Naquela noite, pela primeira vez, alguém agradeceu à bruxa da névoa.

Maelina – Capítulo 5 – Ecos da Verdade

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