🔥 A Fenda – Capítulo VIII

Foi numa madrugada sem lua que os presságios começaram.

Kaela, desperta pelos uivos do oceano, viu as águas se afastarem como se o próprio mar estivesse fugindo de algo. As ondas não rugiam — choravam. Era como se uma força antiga estivesse se movendo sob a superfície, rompendo pactos que sustentavam os dois lados do véu.

Ao mesmo tempo, Seraphine, isolada nas Montanhas de Aridell, ouviu os ventos rasgarem os céus como gritos presos por séculos. Eles não traziam mensagens — traziam avisos. O ar carregava o sabor do desconhecido e o cheiro de algo que não pertencia mais a este mundo.

Enquanto isso, Liora, a que ouve o silêncio entre os espaços, sentiu a vibração da terra em um ponto onde a realidade parecia menos firme. Era uma fenda. Não criada por rituais, nem aberta por acidente. Era intencional. E, mais alarmante que isso, era unilateral.

Alguém estava do outro lado.

E esse alguém sabia o que fazia.

As marcas ao redor da abertura não eram runas conhecidas, nem símbolos das linhagens consagradas. Eram traços de uma escrita esquecida, talvez anterior até ao próprio Círculo. Algo — ou alguém — que tinha sido selado havia eras, estava tentando atravessar de volta. Mas não para se vingar. Não para reinar.

Para reconectar algo que foi partido — e que talvez nunca devesse ter sido separado.

As bruxas, dispersas entre seus caminhos, sentiram o chamado. Algumas com temor. Outras com esperança. E poucas… com uma curiosidade que beirava a imprudência.

A fenda pulsava.

Ela não era apenas um portal.

Era uma escolha.

E quem ousasse atravessá-la não voltaria o mesmo.

Citação:
“Nem toda prisão tem grades. Algumas têm raízes no tempo e nomes que esquecemos de temer.”

A Fenda – Capítulo VIII