🜖 A Câmara das Infantes – Capítulo XIII

Há uma clareira oculta além do que olhos humanos podem ver. Nela, ergue-se a Câmara das Infantes, uma construção antiga de raízes entrelaçadas e pedra viva, onde a luz nunca alcança totalmente o chão. Ali dormem bruxas que jamais conheceram a idade adulta. Preservadas no limiar entre a inocência e o horror, elas cantam para os galhos, para os ossos e para o que resta da razão de quem se aproxima.

Suas vozes são doces. Suas risadas, dissonantes. Suas presas, afiadas como as intenções de quem deseja brincar para sempre. Dizem que foram amaldiçoadas por desafiar o Círculo antes mesmo de saberem o que era o poder. Outras versões afirmam que foram protegidas, seladas pelo próprio tempo, por algo ou alguém que temia o que poderiam se tornar.

Mas agora, algo se move na floresta imóvel.

Uma das Infantes abre os olhos, depois de séculos de quietude. Seu primeiro gesto é sorrir. Seu segundo, cantar. E no som que ecoa entre as árvores, as fronteiras da realidade começam a ceder. Animais silvestres deixam de reconhecer suas formas. A noite se prolonga além do esperado. Viajantes que cruzam a floresta não encontram mais a saída — apenas vozes doces que chamam por nomes que nunca revelaram a ninguém.

As trilhas somem. Os mapas ardem sozinhos. E a fome da Infante recém-desperta é mais do que física. Ela deseja lembranças, medos, afetos, e tudo aquilo que torna alguém capaz de crescer. Ela deseja provar o que nunca teve: maturidade, poder e controle.

As bruxas do novo Círculo ainda não sabem. Mas algo ancestral, e aparentemente pueril, voltou a andar entre mundos.

“Infância eterna é um tipo de maldição.”

A Câmara das Infantes – Capítulo XIII

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