O Anel de Vidro Azul – Capítulo 15

“Nem tudo o que vemos com os olhos pertence à nossa história — mas nos escolhe mesmo assim.”

Clara retornou à sala secreta, ainda com o caderno de Lisbeth nas mãos. O ar parecia mais denso, como se cada página lida tivesse deslocado algo na estrutura invisível daquele lugar. Ao aproximar-se do pedestal onde antes repousava o último caderno, notou algo que não estava lá antes: um anel de vidro azul, delicadamente posado sobre a pedra fria, cintilando sob a luz fraca.

Ela o tocou com hesitação, sentindo uma estranha pulsação atravessar-lhe os dedos. O anel estava gelado, mas se ajustou ao seu dedo como se tivesse sido feito sob medida. No instante em que o colocou, o mundo pareceu vacilar.

As paredes da sala começaram a vibrar levemente, e imagens, como lampejos de lembranças, invadiram sua mente.

Clara viu:

• Uma criança desenhando sozinha à luz de velas, o mesmo espiral ao redor de uma mão.

• Lisbeth chorando diante do espelho, murmurando o nome de Elias.

• Um jovem, Elias? olhando para o anel em sua própria mão, cercado de sombras ondulantes.

• E, por fim, ela mesma, mas em outra época. Vestindo roupas antigas, rindo em meio a pincéis e tintas ao lado de Elias. Como se fossem… próximos. Como se já tivessem existido juntos antes.

Clara se apoiou no pedestal, atordoada. As visões desapareceram tão rápido quanto surgiram, mas deixaram um rastro de vertigem e um peso novo no peito. O anel agora parecia morno, como se tivesse absorvido parte de sua energia, ou devolvido algo esquecido.

Ela olhou para as paredes ao redor. Os desenhos pareciam mais vivos, mais nítidos. Alguns até… haviam mudado?

O anel de vidro azul não era um simples objeto. Era uma chave de memória, um elo com algo, ou alguém que a esperava entre os tempos. E, talvez, uma lembrança do que ela foi… ou do que ainda pode ser.

O Anel de Vidro Azul – Capítulo 15