A Assinatura Duplicada – Capítulo 17

“Algumas assinaturas não marcam autoria — selam destinos.”

Na luz filtrada do fim de tarde, Clara voltou à sala escondida. O silêncio ali parecia mais denso, como se os desenhos nas paredes observassem em vez de apenas existir. Queria rever o último caderno, o desenho das mãos que se tocavam, a assinatura dupla. Precisava ter certeza de que não fora um truque da mente.

Mas, ao folhear outras páginas, notou algo ainda mais perturbador.

Não era apenas naquele desenho.

Quadros antigos, rascunhos desbotados, estudos inacabados — todos agora tinham, ao lado da assinatura de Elias, letras pequenas, quase tímidas:
C.L.

Clara Luz.
Sua assinatura.
Ou algo que parecia com ela.

— Não é possível… — sussurrou, com as mãos tremendo.

Pegou um dos desenhos e o virou contra a luz. A tinta era antiga, o papel envelhecido. Nada ali parecia recente. Como, então, seu nome podia estar ali, em obras feitas décadas antes de seu nascimento?

Sentiu o ar rarefeito, como se a própria lógica do tempo vacilasse.

“Estou completando as obras dele?” pensou. “Ou sempre estive nelas?”

A dúvida se instalou como uma rachadura. E se não estivesse apenas investigando Elias, mas continuando algo que começou com ela? Ou, mais assustador ainda, algo que ela mesma iniciou em outra vida, outro tempo, outro ciclo?

As datas nos desenhos mudavam, como se vivessem por si. Em um deles, viu:
1953 — E.R. & C.L.
Em outro:
2025 — C.L. & E.R.

Ordem invertida. Como se os papéis estivessem se alternando. Como se o autor e o eco trocassem de lugar, eternamente.

Na parede, o espelho refletia não mais a Clara que conhecia, mas alguém que segurava um pincel com a mão firme de quem lembra, e não de quem descobre.

Naquele momento, Clara compreendeu:
não estava apenas dentro da história.
Ela era parte da assinatura.

A Assinatura Duplicada – Capítulo 17