A Palavra Esquecida – Capítulo 21

“Às vezes, o que nos falta não é a resposta, mas a pergunta que esquecemos de fazer.”

Nos dias que se seguiram ao rompimento da fita, Clara passou a notar um padrão sutil. Em cantos escurecidos de molduras, na lateral das fitas, no forro de um dos cadernos, uma palavra, ou o que parecia ser, surgia insistentemente.

Mas nunca completa.
Nunca nítida.
Como se o tempo tivesse apagado apenas ela.

Era uma sequência de letras borradas, riscadas ou interrompidas. Às vezes começava com um “A”, outras com um “E”. Havia fragmentos: “…lian…”, “…mem…”, “…thos”. Nenhum sentido imediato, mas uma estranha familiaridade incômoda, como uma música que ela sentia que conhecia, mas não conseguia cantar.

Determinada, Clara espalhou os cadernos pelo chão do sótão, agora transformado em laboratório de memórias e hipóteses. Cruzou trechos, sobrepôs páginas, alinhou frases interrompidas. Lisbeth mencionava uma palavra recorrente em seus sonhos. Elias a buscava obsessivamente em suas reflexões.

E, então, num lampejo entre linhas e lembranças, ela a viu.

“Aletheia.”
Verdades que estavam ocultas.
Não uma simples palavra, mas um portal, um conceito grego: o desvelar, o lembrar do que já foi sabido.

Ao sussurrá-la em voz alta, um arrepio percorreu-lhe a nuca. As luzes do sótão piscaram, e o espelho tremeu levemente. Clara levou a mão ao peito e, por um breve segundo, soube.

Lembrou-se de algo.
De uma promessa feita antes de nascer.
De uma perda que não era dela, mas que sentia como se fosse.

A palavra esquecida não era só a chave.
Era parte de quem ela era.

E agora, que ela havia sido lembrada, nada mais seria como antes.

A Palavra Esquecida – Capítulo 21