✦ O Peso dos Ecos – Capítulo XXXV

As ruínas do Círculo Antigo voltaram a sussurrar. Não há vento entre aquelas pedras quebradas, mas mesmo assim, vozes ecoam. Elas vêm de bocas há muito desfeitas, línguas que já foram queimadas, olhos que viram longe demais. Vozes de bruxas que sabiam que palavras não morrem, apenas aguardam o momento certo para retornarem.

Liora cruza os corredores esquecidos do templo como quem pisa sobre velhas feridas. Cada passo desperta um fragmento: uma sentença, um feitiço, um lamento travestido de encantamento. Não há ninguém ali. E ainda assim, as vozes crescem.

Algumas palavras se repetem como salmodias sem dono, outras como ameaças sussurradas ao ouvido. E quanto mais se repetem, mais o ar se enrijece, como se o próprio espaço se curvasse às sílabas. Os ecos ganham forma. Começam a ditar. A ordenar.

Liora reconhece uma das vozes, sua mentora, caída há décadas na Noite das Fendas. A mesma frase se repete, firme: “Que a boca calada seja o selo.” Mas é tarde. As palavras já escaparam. O eco se tornou comando. E comando, neste lugar, é maldição.

A jovem bruxa agora precisa decidir: silenciar o passado ou aceitar o fardo de ecoar o que jamais deveria ter sido dito de novo.

“Falar é criar. Repetir é selar.”

O Peso dos Ecos – Capítulo XXXV