✦ Círculo de Lua Cheia na Praia – Capítulo 4

A brisa salgada da noite tocava suavemente os cabelos das bruxas, enquanto a maré subia em silêncio. A areia ainda guardava o calor do sol, mas a energia que pulsava ali vinha de outro lugar — do círculo recém traçado com sal grosso e pétalas de jasmim, bem no centro da praia.

Lara caminhou até o centro do círculo com uma concha nas mãos. Dentro dela, uma mistura de ervas marinhas, folhas secas e pequenos cristais, cuidadosamente reunidos ao longo do mês. Era a oferenda da noite, destinada não aos deuses do mar, mas às forças invisíveis que sustentam a vida costeira: as marisqueiras, os pescadores, os barcos esquecidos, as promessas feitas entre ondas e promontórios.

À sua volta, outras sete mulheres formavam o círculo, de mãos dadas, pés descalços, olhos voltados para o céu claro onde a lua cheia se derramava inteira sobre a água escura. Não havia palavras em excesso, apenas sussurros, entoações suaves, cantos ancestrais que falavam com o mar em uma língua esquecida, mas nunca perdida.

Quando a oferenda foi lançada à água, o círculo permaneceu em silêncio por longos minutos. As ondas pareciam escutar. A lua, cúmplice, banhava as sacerdotisas em uma luz prateada que fazia suas túnicas parecerem translúcidas. Era como se o tempo tivesse parado, apenas para que aquelas bênçãos se fixassem no mundo com a força de algo eterno.

Ao final, cada bruxa deixou na areia algo pessoal: um colar, um fio de cabelo, um bilhete enrolado com cuidado. Pequenos votos, pequenos agradecimentos. Depois, foram embora em silêncio, uma a uma, deixando que o mar cuidasse do que é dele.

Na manhã seguinte, os pescadores da vila encontrariam peixes mais gordos nas redes e menos tempestades anunciadas. Mas ninguém saberia dizer por quê.

“A lua escuta quando as intenções são limpas.”

Círculo de Lua Cheia na Praia – Capítulo 4