✦  A Dança da Colheita – Capítulo 9

Na clareira central da vila, o chão ainda úmido da última chuva carregava o aroma doce do milho recém-colhido. Era fim de tarde, e o dourado do sol parecia abençoar tudo o que tocava. As bruxas do campo, com seus vestidos de linho leve e pés descalços, reuniam-se ao som de tambores feitos de couro antigo e madeira das árvores da região. Cada batida ecoava com o pulso da terra, e os corações das mulheres acompanhavam em silêncio respeitoso.

Lívia, a mais velha entre elas, desenhou um círculo com farinha de mandioca e folhas secas. Ali, depositaram frutas, sementes, ervas e pão de abóbora. Não era uma oferenda de sacrifício, mas de gratidão. A terra dera, e elas devolveriam com música, movimento e celebração.

Ao redor, moradores se aproximavam com olhos brilhantes. Crianças seguravam pequenas espigas pintadas com tintas naturais. Velhos se sentavam em bancos rústicos, mãos cruzadas em silêncio reverente.

As bruxas começaram a dançar em espiral, girando no sentido horário, pés marcando o ritmo da vida que pulsa debaixo do solo. Seus cabelos voavam livres, os braços desenhavam bênçãos no ar, e cada gesto era um agradecimento. Não havia palavras. Apenas a dança.

A dança da colheita não pedia mais nada. Ela apenas dizia: obrigada. E por isso mesmo, a terra ouvia.

Naquela noite, a lua cheia se ergueu antes do tempo, iluminando o campo como uma resposta. As sementes do próximo plantio já haviam sido tocadas pela bênção da alegria.

E assim, mais uma vez, o ciclo estava completo.

A Dança da Colheita – Capítulo 9