✦ A Poção do Perdão – Capítulo 12

Na casa de esquina da Rua das Nuvens, morava Clara, uma jovem bruxa de olhos doces e mãos cuidadosas. Diferente de outras poções que curavam febres ou acalmavam corações, a que Clara preparava naquele dia tinha um propósito mais profundo: trazer alívio à alma sem exigir presença ou palavras.

A receita não era simples. Não se tratava de ingredientes raros, mas de sentimentos difíceis de domar. Era preciso colher pétalas de jasmim ao entardecer, lágrimas de arrependimento colhidas do próprio espelho e um fio de silêncio de quem escolheu não revidar. Clara misturava tudo com delicadeza em um frasco âmbar e, quando a lua ficava alta, ela caminhava pelas ruas da vila. Seu destino: uma porta específica, de alguém que nunca a procurou para se desculpar, mas que ela sabia carregar o mesmo peso que ela.

A poção não era feita para ser bebida. Bastava deixá-la ali, no batente, entre as folhas secas e os passos que nunca voltaram. No dia seguinte, a bruxa partia antes do sol nascer. E mesmo que ninguém a visse, algo mudava naquela casa. O ar se tornava mais leve. Os sonhos vinham sem nó. A mágoa, que era um musgo entranhado no peito, começava a se soltar devagar.

Clara nunca buscava reconhecimento. Sua arte era o gesto invisível, o cuidado que não exigia retribuição. Sabia que o perdão, assim como a poção, só age quando o coração está pronto.

Alguns juravam que viram frascos parecidos em outras janelas, outras cidades. E diziam que, mesmo sem saber como, acordaram respirando mais fundo, lembrando menos da dor e mais do tempo bom que veio antes dela.

E assim, a jovem bruxa seguia, semeando o tipo mais raro de magia: aquela que cura em silêncio.

A Poção do Perdão – Capítulo 12