✦ A Caixa das Cartas que Nunca Foram – Capítulo 16

No fundo de uma pequena sala perfumada com alfazema seca e vela de mel, repousa uma caixa feita de madeira envelhecida e símbolos antigos gravados à mão. Ela não tem tranca nem fechadura, mas se abre sozinha quando alguém deposita ali uma carta que nunca teve coragem de enviar. São cartas de amor não correspondido, de desculpas jamais ditas, de despedidas que ficaram presas na garganta.

A bruxa Isadora, guardiã da caixa, tem olhos serenos e mãos quentes. Ela não julga. Apenas lê. E ao ler, ela murmura encantamentos suaves que transformam cada palavra carregada de tristeza em pétalas luminosas que desaparecem no ar. A dor, então, deixa de pesar tanto.

Muitos chegam até ali em silêncio. Alguns apenas tocam a caixa e vão embora. Outros choram enquanto entregam sua carta. E quando se afastam, sentem um alívio que não sabem explicar. Isadora sabe: as palavras que não foram ditas nunca deixam de existir. Mas podem mudar de forma.

Na vila, há quem diga que, certa noite, uma carta deixada ali encontrou seu destino de forma mágica. O destinatário sonhou com cada palavra, como se fossem ditas ao pé do ouvido. Verdade ou lenda, ninguém sabe. Mas a caixa continua ali. Recebendo as dores caladas e devolvendo esperança em silêncio.

Porque toda carta não enviada é uma oração esperando alguém que a ouça. E Isadora ouve. Sempre.

A Caixa das Cartas que Nunca Foram – Capítulo 16