O Último Bilhete de Matteo – Capítulo 9

Ana encontrou o envelope entre os livros antigos de medicina do avô de Daniel. O papel amarelado estava cuidadosamente dobrado, selado, mas nunca enviado. Ao tocar na caligrafia trêmula, sentiu um frio correr pela espinha. Reconhecia aquele nome na dedicatória: o da mãe.

Sentou-se na varanda da casa antiga, onde a brisa vinda do mar parecia sussurrar segredos que o tempo quis enterrar. Leu lentamente, absorvendo cada palavra. Matteo confessava um amor que nunca teve coragem de assumir, pedia perdão por ausências que nunca explicou e falava sobre escolhas que mudaram destinos.

A carta não era só um desabafo, era um pedido tardio de reconciliação. Matteo revelava que tentou se aproximar anos antes, mas foi impedido por circunstâncias que agora pareciam irrelevantes diante da dor acumulada.

Ana fechou os olhos. Não sabia se chorava pelo que sua mãe perdeu, pelo que Matteo não viveu ou pelo vazio que restava entre as linhas daquela carta. Tudo ali mudava o passado, ainda que não pudesse ser refeito.

Guardou o bilhete no bolso e olhou para o horizonte. Mesmo as palavras não ditas têm o poder de transformar.