✦ A Fogueira das Histórias Boas

À beira de uma cidade esquecida pelo tempo, havia uma clareira onde o cheiro de lenha queimada se misturava ao perfume de ervas. Todas as noites, uma bruxa de cabelos longos e prateados acendia uma fogueira. As chamas dançavam como se quisessem ouvir, e o vento parecia guardar silêncio para não interromper.

As pessoas vinham aos poucos, carregando histórias que ninguém se importava em contar. Não eram relatos de guerras, crimes ou tragédias. Eram histórias de bondade silenciosa, como o padeiro que deixava pão na porta de quem passava fome, a criança que dividia o único doce que tinha ou a vizinha que cantava para acalmar o bebê de outra mãe.

A bruxa ouvia cada palavra como se fossem pedras preciosas. Fechava os olhos, murmurava feitiços leves e, a cada história, jogava um punhado de sal e flores secas no fogo. As faíscas subiam ao céu, e diziam que lá viravam estrelas para iluminar o caminho de quem fazia o bem sem esperar nada em troca.

Com o tempo, a fogueira se tornou lenda. Muitos afirmavam que, se contassem uma boa história ao fogo da bruxa, teriam sorte pelo resto da vida. Outros diziam que, em noites de lua cheia, podiam ouvir risos e vozes ecoando entre as árvores, como se as histórias nunca tivessem deixado de ser contadas.

E assim, naquela cidade, o bem não morria. Apenas se transformava em chama, luz e memória.