✦ A Estação do Recomeço

A antiga estação de trem parecia respirar memórias. As paredes de tijolos guardavam o eco de despedidas, reencontros e promessas não cumpridas. O piso gasto pelo tempo refletia a passagem silenciosa de incontáveis passos que um dia carregaram malas pesadas e corações ainda mais carregados. No centro daquele cenário, uma bruxa de olhar sereno mantinha sua pequena mesa junto a um banco de madeira, sempre posicionada onde o sol da manhã entrava pela claraboia, aquecendo levemente o ar frio.

Sobre a mesa, um bule fumegante espalhava pelo ambiente o aroma reconfortante de ervas raras. O chá que ela preparava não era apenas bebida; era um abraço líquido, capaz de aquecer por dentro até mesmo aqueles que já não acreditavam mais no calor da vida. Ao lado, pequenas pedras lisas e coloridas repousavam dentro de uma caixa de madeira talhada à mão. Cada uma carregava um feitiço suave, um sussurro de coragem ou uma promessa silenciosa de que dias melhores viriam.

Os viajantes se aproximavam com passos hesitantes. Alguns chegavam com os olhos inchados de choro, outros partiam segurando a respiração para não desmoronar antes de embarcar. A bruxa os recebia com um sorriso que não julgava, apenas acolhia. Servia o chá em xícaras simples, deixava o calor fazer o trabalho inicial e, então, oferecia palavras que pareciam sempre tocar exatamente onde era necessário. Às vezes eram conselhos, às vezes apenas silêncio partilhado, mas sempre acompanhados de uma das pequenas pedras encantadas.

Quem chegava saía dali um pouco mais leve. Quem partia levava consigo um fragmento de esperança no bolso. A bruxa sabia que não podia evitar as partidas nem apagar as dores, mas podia lembrar às pessoas que mesmo um coração em pedaços ainda podia pulsar, e que cada estação, por mais fria que parecesse, escondia a promessa de um recomeço.