A Verdade do Avô

Na penumbra do sonho, a figura do avô surgiu com a serenidade de quem sempre carregou respostas guardadas no silêncio. Lucas, ainda envolto pela névoa onírica, sentiu a presença firme e acolhedora daquele homem que, mesmo ausente da vida terrena, parecia mais vivo do que nunca.

O avô caminhou lentamente até ele, com passos que não faziam ruído, mas que pareciam ecoar dentro do coração do neto. Seus olhos continham a luz de uma sabedoria antiga, e o gesto de sua mão repousando sobre o ombro de Lucas transmitia paz.

Meu menino, disse com voz calma, o dom que você carrega não existe para que você tente refazer o que já foi vivido, nem para que corrija erros que pertencem ao passado. O tempo é rio, e nenhum de nós pode represar suas águas.

Lucas sentiu um aperto na garganta, como se o peso de tantas tentativas malogradas finalmente encontrasse explicação.

O dom, prosseguiu o avô, é para que você aprenda a ver o que importa em cada instante. Não se trata de mudar o que foi, mas de compreender o valor do que é. O presente é o único lugar onde a vida respira.

As palavras caíam como sementes dentro dele, germinando em uma clareza inesperada. O avô aproximou o rosto, e seus olhos pareciam atravessar as muralhas que o medo erguera em Lucas.

Entenda, meu neto, o verdadeiro poder não é reescrever histórias, mas enxergar o significado escondido nelas. O amor, as escolhas, os momentos simples… é aí que está a verdade.

O sonho começou a se desfazer como uma pintura diluída pela chuva. Antes de desaparecer, o avô sorriu com a doçura de quem deixa um último conselho gravado no espírito.

Lucas despertou com lágrimas nos olhos, mas também com a sensação de que, pela primeira vez, havia compreendido o sentido profundo de seu dom.