O Baralho que Caiu

As cartas escorregaram da mesa e espalharam-se pelo chão de pedra polida. O Rei inclinou-se devagar para recolhê-las, mas ao abaixar-se, o mundo pareceu suspender o fôlego. Sob a mesa, encontrou o sorriso provocador da Rainha, iluminando o espaço como se fosse um segredo reservado apenas a ele.

Ele permaneceu imóvel por um instante, sem pressa alguma de se erguer. Havia naquele olhar algo mais valioso do que qualquer trunfo que pudesse guardar nas mãos. Cada curva do rosto dela, cada lampejo nos olhos, era um lembrete de que sua maior fortuna não se media em cartas, mas no privilégio de chamá-la sua.

Enquanto isso, Luzia, a gata curiosa, deslizava entre as cartas espalhadas, batendo nelas com a pata como se também exigisse sua vez no jogo. Nilo aproximou-se em silêncio, observando com aquele ar misterioso dos felinos que parecem guardar todos os segredos do mundo. Lórien deitou-se próximo, atento, como guardião fiel da cena, enquanto Bravus abanava o rabo, impaciente pela agitação que não compreendia, mas que queria participar.

O Rei, ainda debaixo da mesa, deixou escapar um sorriso cúmplice e murmurou, com a voz carregada de desejo e ternura:

— Basta um olhar seu para que eu perca todas as apostas.

A Rainha inclinou-se levemente, como quem reconhece o poder de sua presença. Seus olhos brilhavam como cartas marcadas pelo destino, impossíveis de serem vencidas. Ele sabia: não havia trapaça nem sorte que o salvasse daquela rendição.

E, ainda assim, era a rendição mais doce que ele desejava viver todos os dias.

✨ Citação:
“As cartas caíram, mas foi no sorriso da Rainha que o Rei encontrou seu jogo perdido e sua vitória eterna.”