Entre Ecos e Sonhos 

O campo estava envolto em uma névoa densa, como se a própria terra tivesse decidido guardar segredos antigos. Clara caminhava lentamente, sentindo cada passo afundar na relva úmida. Havia um silêncio quase sagrado, interrompido apenas pelo sopro do vento que parecia sussurrar seu nome.

Entre as sombras brancas da neblina, uma figura surgiu. Era ele. Elias. O contorno do corpo era difuso, mas o olhar atravessava a distância com clareza absoluta. Quando se viraram um para o outro, o tempo deixou de existir. Nada lembrava o passado, nada ameaçava o futuro. Restava apenas o agora, suspenso no espaço das lembranças que se recusavam a morrer.

Clara avançou sem hesitar. Cada passo parecia dissolver anos de ausência, apagando lacunas que a vida e o esquecimento haviam criado. Elias ergueu as mãos lentamente, e elas se encontraram no ar, primeiro como reflexo, depois como certeza. O toque foi suave, mas carregado de tudo que já haviam sentido e que ainda pulsava entre eles.

O vento se moveu ao redor, carregando fragmentos de memórias: risos, promessas, cartas, noites de chuva. Tudo coexistia naquele instante, e ainda assim não havia peso, apenas a leveza de quem finalmente retorna ao lar de si mesmo. Clara sentiu as lágrimas correrem, mas não havia tristeza. Havia a plenitude de reconhecer o amor que resistiu a tudo, até ao esquecimento.

Eles caminharam juntos pelo campo enevoado, sem palavras, porque não eram necessárias. Cada gesto, cada respiração, dizia tudo o que precisava ser dito. As cores surgiam e desapareciam na névoa, criando sombras que lembravam outros momentos, outros encontros que a vida lhes roubara.

No espaço entre o sonho e a realidade, Clara percebeu que não existiam limites. Nem tempo, nem distância, nem morte. Apenas eles e a certeza de que, mesmo quando tudo parece perdido, o amor encontra formas de se sustentar.

E ali, naquele campo enevoado, Clara e Elias finalmente pertenciam a um lugar só deles. Um lugar onde os ecos do passado e os sussurros dos sonhos se entrelaçavam, onde o amor se recusava a deixar qualquer lembrança desaparecer. Eles permaneceram juntos, suspensos entre ecos e sonhos, e o mundo parecia finalmente se inclinar em reverência à força silenciosa do que verdadeiramente importa.