O Fim de Tarde com Gosto de Eternidade – Capítulo 73

O sol escorria lento pelo céu, tingindo o Reino com tons dourados e alaranjados. Era fim de tarde, e o silêncio tinha aquela textura de paz que só se reconhece quando o coração está em sossego. A Rainha Vera, cansada de um dia cheio de afazeres e risos, buscou refúgio no jardim, onde o Rei Robledo já a esperava sob a sombra acolhedora de uma árvore antiga.

Sem dizer uma palavra, ela deitou-se com delicadeza no colo dele, como quem se encaixa onde sempre pertenceu. Luzia, sempre elegante, se aninhou próxima ao braço dela, ronronando suavemente, enquanto Nilo ocupava a ponta da manta estendida no gramado, encolhido como um novelo. Lórien deitou-se aos pés do Rei Robledo, vigilante e sereno, e Bravus, mais espalhafatoso, esticou-se de barriga para cima, deixando um rastro de baba no chão com a alegria descomplicada que só os cães sabem demonstrar.

O momento não exigia nada. Nem conversa, nem planos, nem promessas. Apenas presença. O tipo de presença que fala sem palavras, que consola sem esforço. O tipo de amor que se percebe nas pequenas coisas, como o carinho constante do Rei nos cabelos da Rainha, penteando-os com os dedos devagar, sem pressa, como se o tempo estivesse ali apenas para contemplar.

O vento soprava leve, embalando as folhas e trazendo um cheiro de terra molhada ao longe, como se a natureza também respirasse em alívio. Os olhos de Vera estavam semicerrados, não por sono, mas por tranquilidade. Era como se o mundo lá fora tivesse pausado sua pressa, sua pressa sempre ruidosa, só para que aquele instante durasse mais.

Foi então que o Rei Robledo olhou para o céu em silêncio e, depois de alguns segundos, disse baixinho, sem esperar resposta, apenas com a firmeza de quem fala com o coração: “Se o mundo acabar agora, quero que seja aqui.”

Nenhum trovão respondeu, nenhuma estrela caiu. Mas ali, naquela quietude entre o toque, o afeto dos animais e a cumplicidade de dois que escolheram caminhar juntos, havia um gosto raro: o da eternidade vestida de fim de tarde. Luzia se espreguiçou. Nilo bocejou. Lórien suspirou como quem entende tudo. E Bravus soltou um latido sonolento, selando o momento com sua alegria inofensiva.

Naquele Reino, não era preciso mais. O agora era suficiente. E o agora estava cheio de amor.