O Retorno à Vila de Neve – Capítulo 1

o retorno à vila da neve

O Retorno à Vila de Neve

Helena Frost volta ao lugar onde jurou nunca mais pisar.

A vila surge entre a névoa branca como uma lembrança que se recusa a morrer. Os telhados estão cobertos por uma camada espessa de neve antiga, endurecida pelo tempo e pelo silêncio. Cada passo dela afunda e estala, como se o chão reconhecesse seu peso e a denunciasse. O frio corta, mas não tanto quanto a memória.

As casas permanecem alinhadas como sempre, portas fechadas, janelas baixas, cortinas pesadas. Nada parece ter mudado e, ainda assim, tudo está diferente. O ar carrega um cheiro de lenha queimada e distância. É o mesmo cheiro da infância, dos invernos longos, das promessas feitas em voz baixa e quebradas sem testemunhas.

Helena puxa o capuz, não para se esconder do frio, mas dos olhos invisíveis que imagina a observando. Aqui, cada esquina guarda um nome não dito. Cada rua conhece a história que ela tentou enterrar sob outras cidades, outros rostos, outras versões de si mesma.

O sino da pequena igreja toca ao longe. Um som grave, lento, quase solene. O coração dela acompanha o ritmo, hesitante. Voltar nunca foi parte do plano. Sobreviver, sim. Esquecer, talvez. Retornar, jamais. E, no entanto, ali está ela, diante da praça central, onde tudo começou e terminou na mesma estação.

A vila de neve não a recebe nem a rejeita. Apenas espera.

E, ao cruzar o limite invisível que separa o passado do presente, ela entende que não voltou por falta de escolha, mas porque algumas histórias não permitem fuga. Apenas continuação.

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