Promessa no Tempo 

Ela sentia o tempo escorrer entre os dedos como areia quente, como se cada segundo fosse um grão de desejo não vivido. A noite envolvia seu corpo com um manto de silêncio, e era nesse silêncio que ele surgia, não em carne, mas em lembrança, em promessa, em presença invisível. Ele também esperava. Em algum lugar onde o tempo parecia mais lento, onde o corpo ardia de saudade e a alma se despia de orgulho.

Eles se prometiam sem palavras. Era no olhar que atravessava o escuro, no pensamento que tocava o outro como dedos sobre pele. O tempo era o único obstáculo, mas também o único cúmplice. Porque era ele quem guardava o instante do encontro, o momento em que os corpos finalmente se reconheceriam como extensão do mesmo desejo.

Ela se deitava nua sobre os lençóis, não por solidão, mas por entrega. Cada curva sua era uma oração, cada suspiro, um verso que ele ouviria em sonhos. Ele, por sua vez, caminhava pelas ruas com o peito em brasa, como se cada passo o levasse para mais perto do toque que ainda não conhecia, mas já desejava com a força de mil vidas.

O tempo não era inimigo. Era amante lento, provocador, que os mantinha em suspense, que os fazia imaginar o gosto, o cheiro, o calor. E nessa espera, eles se amavam com mais intensidade do que muitos que se tocam todos os dias. Porque o amor deles era feito de fé, de fogo contido, de promessas sussurradas ao vento.

Quando enfim se encontrassem, não haveria palavras. Apenas pele, boca, olhos fechados e o som do tempo se rendendo ao prazer de vê-los juntos. Até lá, cada noite seria um capítulo, cada sonho, um ensaio. E o tempo, esse velho sedutor, continuaria a brincar com seus corpos distantes, sabendo que o final já estava escrito, e seria sublime.