O Cabelo que Escorre

A Rainha penteava os cabelos ainda úmidos após o banho, e cada fio parecia carregar o frescor da madrugada, mesmo em plena tarde. As gotas escorriam lentas pelo pescoço, insinuando um caminho irresistível até o colo. O Rei, enfeitiçado pela cena, se aproximou em silêncio e, com a delicadeza de quem adora um tesouro raro, começou a beijar cada gota que caía, como se fosse vinho sagrado guardado apenas para ele. Seus lábios seguiam o curso da água, desenhando na pele dela uma trilha de calor e adoração. A Rainha, tomada pelo arrepio doce daquele toque, inclinava a cabeça, fechava os olhos e se entregava ao prazer suave de ser reverenciada.

Lórien, atento, latiu uma vez como quem queria chamar a atenção para si, mas logo percebeu que aquela era uma dança apenas deles e voltou a deitar-se fielmente ao lado, guardando o momento com respeito silencioso. Bravus se esticava preguiçoso no tapete, sem perder de vista os dois, enquanto Luzia se acomodava na poltrona, observando com seus olhos brilhantes, e Nilo, deitado na janela, acompanhava o cair das sombras, como se vigiasse o mundo para que nada os interrompesse.

O Rei passava as mãos nos cabelos da Rainha, ajudando-a a desembaraçar os fios com a mesma paciência com que desatava as tensões da alma dela. Seus dedos entrelaçados ao perfume natural que escapava da pele criavam um cenário de intimidade absoluta, onde o erotismo nascia da simplicidade de um gesto cotidiano. Ele a olhava com desejo e ternura, deixando claro que cada detalhe dela era motivo para se perder, para se render, para se ajoelhar diante da beleza que só existia naquela mulher.

“Cada gota em você é um convite para eu me perder, cada fio que escorre em sua pele é um caminho que me leva de volta para casa, porque em você encontro o sagrado do desejo e a eternidade do amor.”