O Banho Demorado

O vapor preenchia o ar, transformando o banheiro em um refúgio envolto por névoa e desejo. A Rainha deixava a água deslizar por sua pele, como se cada gota fosse um toque do próprio tempo tentando decifrá-la. O Rei, ao observá-la, sentiu-se irresistivelmente atraído não apenas pelo corpo, mas pela calma e pela entrega que ela exalava. Entrou em silêncio, como quem pisa em território sagrado, e a envolveu por trás, deixando que o calor do encontro se misturasse ao da água.

Ela virou o rosto, rindo baixinho, e o olhou com ternura e provocação. O riso virou suspiro, e o suspiro, prece. Ali, entre o som da água e o eco das respirações, o amor se transformava em uma espécie de linguagem secreta, falada apenas pela pele. Cada gesto era um verso, cada toque, uma confissão.

A chuva artificial que caía sobre eles parecia abençoar aquele instante, lavando o cansaço, as dúvidas e o tempo. O Rei passou as mãos pelos cabelos molhados da Rainha, e ela o puxou para mais perto, sem pressa, sem necessidade de palavras. Tudo era presença, tudo era comunhão.

Do lado de fora, Nilo miava baixinho, intrigado pelo som e pela demora, como se tentasse entender aquele mistério que o mundo humano guardava. Lá dentro, porém, nada pedia explicação — apenas continuidade.

“Na pureza da água, teu corpo é o altar e meu desejo, a oração.”