O Cabelo Desarrumado

A manhã chegou preguiçosa, derramando sua luz dourada sobre o quarto do Reino de Veramor. A Rainha despertou entre lençóis macios, com os cabelos em desalinho, ainda presos às lembranças da noite. O Rei, já desperto, a observava em silêncio, tomado por uma mistura de ternura e fascínio. Havia algo sagrado naquela desordem suave, como se o próprio sol tivesse se rendido à beleza natural dela.

Ela percebeu o olhar dele e sorriu, um pouco envergonhada, tentando ajeitar os fios rebeldes. Mas o Rei, com um gesto calmo e firme, segurou suas mãos, impedindo-a de esconder o encanto do acaso. Disse-lhe que nunca vira nada mais lindo, que cada fio fora desenhado por um deus distraído, e que o desarranjo só revelava o quanto ela era real, viva e infinitamente bela.

A Rainha o olhou com aquele misto de riso e ternura que o desarmava por completo. Encostou a testa na dele e deixou o momento durar, sem pressa. A cumplicidade entre eles parecia antiga, como se atravessasse séculos em cada olhar trocado.

Nilo, curioso, subiu na cama, acomodando-se entre os dois, como se quisesse fazer parte daquele instante simples e perfeito. O Rei afagou o gato com uma das mãos, ainda mantendo a outra entrelaçada à da Rainha, num gesto que selava o amor entre o cotidiano e o divino.

O mundo poderia esperar lá fora, porque dentro daquele quarto o tempo havia se rendido à calma do afeto.

“Tua beleza não precisa de arranjos, porque tua essência já é perfeita.”