O Livro Marcado

A Rainha passeava os dedos pelas prateleiras, deixando o pó do tempo tocar suas mãos como quem desperta memórias adormecidas. Entre tantos volumes, encontrou um livro antigo, de capa gasta e páginas amareladas. Ao abri-lo, deparou-se com palavras escritas à mão — traços firmes, mas cheios de emoção contida. Eram anotações do Rei, escondidas entre os parágrafos, como se ele tivesse tentado dialogar com o próprio destino.

Cada frase falava dela. Pequenas observações, declarações veladas, lembranças de momentos simples transformados em poesia. A Rainha sentiu o coração apertar de ternura, como se estivesse folheando o espelho da alma dele. Quando o Rei entrou na sala e a viu com o livro nas mãos, corou levemente, um misto de vergonha e entrega silenciosa. Ela não disse nada de imediato, apenas o olhou com uma doçura que desarmava qualquer palavra.

Depois de um instante que pareceu suspenso no ar, a Rainha se aproximou e o abraçou com delicadeza. Disse baixinho que nenhum romance poderia ser mais bonito que o que eles viviam — porque ali, entre aquelas páginas, estavam os gestos, os olhares e o amor que não cabia apenas no cotidiano. O Rei a envolveu nos braços, e o tempo pareceu parar outra vez.

Luzia, percebendo a cena, deitou-se sobre o livro aberto, como se quisesse proteger aquele tesouro. O vento entrou pela janela, folheando algumas páginas, como um cúmplice que desejava espiar o amor ali guardado.

“Escrevi em páginas o que meu peito não podia guardar em silêncio.”