Receita de Feitiço

A noite vestia o quarto com sombras suaves e um perfume de jasmim que parecia ter vindo dos sonhos. A Rainha repousava entre lençóis brancos, o ombro nu escapando do tecido como um convite inocente e, ao mesmo tempo, irresistível. O Rei a observava com uma devoção silenciosa, como quem teme quebrar a delicadeza de uma cena que parece feita de eternidade. A chama da vela tremulava no criado-mudo, e seu reflexo dançava sobre a pele dela como uma prece em movimento.

Ele se inclinou, deixando que os dedos percorressem devagar o contorno do ombro exposto, num gesto que era mais reverência do que desejo. A textura da pele o fez fechar os olhos por um instante, como quem prova o divino em silêncio. Aproximou os lábios e murmurou baixinho, com voz embargada de emoção, que a pele dela tinha gosto de coisa que não se compartilha, de segredo antigo guardado no fundo da alma, de receita de feitiço inventada pelos deuses só para ela.

A Rainha sorriu, preguiçosa, com aquele brilho sereno de quem sabe que é o centro do universo do homem que a ama. Virou-se de leve, buscando o olhar dele, e o encontrou cheio de ternura, ardor e rendição. Disse que talvez o feitiço fosse dele, e não dela, porque nenhum toque jamais a fizera sentir tão viva, tão inteira, tão amada.

Luzia se espreguiçou aos pés da cama, ronronando, enquanto Nilo espiava pela porta entreaberta, curioso com o silêncio carregado de magia. Até o ar parecia mais denso, saturado de amor e calor, como se o próprio tempo houvesse decidido repousar ali, dentro daquela respiração compartilhada.

Ele beijou novamente o ombro dela, devagar, como quem sela um pacto antigo, e sussurrou que certos encantos não precisam ser desvendados, apenas vividos.

E o quarto, envolto pela penumbra e pela ternura, guardou em seu silêncio o segredo da noite:
“Tua pele é o feitiço que faz do amor o milagre mais real que existe.”