Adendo – Mapas do Desejo e Travesseiros Despenteados

No coração pulsante do Reino de Veramor, existe um território secreto onde a solenidade das cartas de amor dá lugar ao riso abafado no travesseiro, à troca de olhares que diz mais do que qualquer verso. Esse território não está nos decretos reais nem nos bailes cerimoniais. Está nos pequenos gestos, nas provocações cotidianas e nas rotas improvisadas entre um compromisso e outro.

Tudo começa na Torre do Chá, onde ela, de cabelos presos de qualquer jeito e olhos meio sonolentos, segura a caneca como quem segura o próprio cetro. O Rei, fingindo ter acordado antes, observa à distância, fascinado, não pelo chá, mas pela forma como a Rainha cruza as pernas distraidamente, como quem sabe que é irresistível até sem tentar. Ela fala sobre tarefas do dia, e ele só pensa no caminho da nuca até o ombro que o roupão deixa à mostra.

Na parte oeste do palácio, há o Sofá das Confissões. Ali, entre almofadas amassadas e mantas desalinhadas, eles discutem temas sérios como… o último emoji usado ou o tom de voz em um áudio de dois segundos. São pequenas batalhas travadas com afeto, nas quais, mesmo quando há discordância, há vontade de beijar logo depois de dizer “discordo”. E geralmente acontece.

“Em Veramor, um toque na ponta dos dedos pode ser um decreto de rendição. Uma provocação sussurrada é um tratado de paz. E quando ela finge não estar ligando, é quando mais deseja que ele a observe.”

E o Jardim das Entrelinhas… Ah, esse lugar! É onde o desejo floresce sem escândalo. As flores não gritam, mas exalam intenções. É lá que ele deixa bilhetes disfarçados de metáforas, e ela responde com mensagens que terminam em três pontinhos, os mais perigosos de todos, pois ali mora a promessa de continuidade.

Entre tropeços de agenda e reuniões atropeladas, o Rei às vezes aparece com a camisa desabotoada de forma involuntária, ou talvez estratégica. A Rainha não comenta, mas o canto do sorriso denuncia que ela percebeu. À noite, quando enfim se encontram sem pressa, o silêncio inicial é sempre interrompido por alguma frase que começa leve e termina com aquele olhar que pede: “insista mais um pouco”.

E quando não dá tempo para encontros, quando o dia termina sem beijos, sem mãos dadas nem palavras doces, o que resta são as intenções pairando no ar. Eles se desejam mesmo quando fingem distração. O amor em Veramor sabe brincar de esconde-esconde, mas nunca se perde.

Porque, mesmo que o Rei esteja longe, viajando nos mapas do mundo, ele ainda caminha pelas curvas da lembrança de sua Rainha. E mesmo que ela esteja imersa em suas criações e compromissos, ainda escuta o som inventado da voz dele no fundo da mente.

Em Veramor, a saudade não dói, ela excita.

Adendo – Mapas do Desejo e Travesseiros Despenteados

Brasão Reino de Veramor

V&R
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