O Encanto do Rodapé – Adendo

Era uma noite dessas em que até as estrelas cochichavam entre si sobre os segredos do Reino de Veramor. O céu estava límpido, a brisa dançava entre os parreirais do pomar, e o cheiro de jasmim se espalhava como sussurro apaixonado.

Mas o Rei? Ah, o Rei estava ajoelhado no chão da sala, lutando com um inimigo astuto e persistente: o maldito rodapé da ala leste do castelo.

Com a testa suada e a paciência quase no fim, ele murmurava:
— “Já lutei guerras por este Reino de Veramor… já enfrentei tempestades, infiltrações, cupins e orçamentos de material de construção… mas esse rodapé é meu verdadeiro algoz.”

Com a cola escorrendo pelos dedos, e estranhamente também pelos cabelos, o Rei tentou mais uma vez: aplicou, pressionou, prendeu com fita. Suspirou. Levantou. Descolou de novo.

Lá do alto da escada, a Rainha trocava a cortina da janela com graciosidade olímpica. Os braços esticados, os cabelos dourados presos com um lenço de flores. E quando o Rei gemeu de frustração, ela não perdoou:

— “Meu Rei, até os rodapés sentem ciúmes quando você se ajoelha para algo que não sou eu…”

Ele a olhou com cola na sobrancelha e desejo nos olhos.
— “Loira Linda, se você continuar pendurada nessa escada com esse vestido leve, coloco o rodapé no lugar só com o poder da concentração… ou não garanto que ele vá continuar colado.”

Ela riu. O rodapé, por fim, cedeu.
E naquela noite de reformas, cola e flirt, o Reino de Veramor brilhou um pouco mais. Porque, às vezes, o encantamento vive nos detalhes… até nos que ficam no canto da parede.

O Encanto do Rodapé – Adendo

Brasão Reino de Veramor

V&R
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