Teclado Molhado de Saudade – Capítulo 21
🌙 Temporada 2 — Atualizações de Amor e Outros Downloads Lentos

Era madrugada.
Aquelas em que o silêncio da casa ecoa mais alto que qualquer playlist lo-fi.
A tela acesa era a única luz acesa no quarto.
E ele…
Ele digitava como quem tenta costurar ausência com palavras.

Mas toda frase parecia curta demais pra saudade.
Toda vírgula tremia, como se quisesse virar suspiro.

As mãos pairavam sobre o teclado com hesitação.
Escrevia. Apagava. Escrevia de novo.
Tentava colocar em palavras o que o corpo gritava por dentro:
falta dela.

A saudade não é algo que se escreve.
É algo que escorre primeiro pelas teclas, depois pelos olhos,
e por fim, pela alma, que fica molhada igual ao teclado.

As letras se confundiam com lágrimas discretas.
Aquelas que caem sem barulho, mas com o peso de um continente.
Porque não era só a distância física.
Era o toque que não vinha.
O beijo que só existia no dicionário dos dedos.
O abraço que morava nas entrelinhas das conversas.

Ele digitava como quem beija com palavras.
Tentava tocar onde a pele ainda não pôde.
Cada ponto final era uma pausa no peito.
Cada “eu queria você aqui” era um grito sussurrado.

No fundo, ele sabia que o teclado jamais substituiria a pele dela.
Mas mesmo assim continuava escrevendo
como quem tenta aquecer o travesseiro com parágrafos,
como quem tenta matar a saudade sem matar o sentimento.

E ali, entre o Enter e o Backspace,
nascia mais uma tentativa de presença.
Uma carta nunca enviada, mas sempre sentida.
Porque às vezes, o amor mora mesmo é nesse gesto triste e bonito
de molhar o teclado com tudo que ainda se quer viver.

Teclado Molhado de Saudade – Capítulo 21