O Café que Esfriou e o Olhar que Aquecia – Capítulo 21

A manhã nasceu com cheiro de pão quente e de café recém-passado. A Rainha Vera, elegante até de moletom e coque torto, organizava a mesa real com a destreza de quem reina também sobre torradas e talheres.

O Rei, ainda sonolento, segurava a xícara, mas não bebia. O líquido fumegante esfriava lentamente entre seus dedos.

— “Vai deixar o café virar lembrança?” — perguntou ela, sentando-se com a xícara firme entre as mãos.
— “Estava ocupado admirando a vista…” — ele respondeu, sem tirar os olhos da curva suave da nuca dela, onde um fio de cabelo rebelde fazia morada.
— “A paisagem pela janela, imagino.” — disse a Rainha, com um sorrisinho que sabia mais do que dizia.
— “Não. A paisagem que você me oferece todo dia, sem notar.”

Ela virou-se devagar, os olhos sem pressa. Sabia o poder que tinha, mesmo sem precisar exibi-lo. E era justamente essa sofisticação espontânea que fazia dele refém voluntário.

— “Você é o único homem que me olha como se eu fosse mil páginas de um livro que ele nunca termina de ler.”

O Rei sorriu. Levantou-se, deu a volta na mesa, parou atrás da cadeira dela e encostou os lábios bem perto do pescoço.

— “É que você tem capítulos que se reescrevem toda vez que amanhece.”

Ela fechou os olhos por um instante. O café podia ter esfriado… mas o peito dela, agora, borbulhava.

Dedicatória ao Reino de Veramor

Este Reino nasceu do mais puro e eterno sentimento que já habitou o coração de um homem. Foi criado não por ambição ou glória, mas pela mais nobre das razões: reverenciar com devoção o amor do Rei por sua Rainha Vera Lúcia.

Veramor não é apenas terra, espaço ou nome. É alma. É um santuário onde cada pedra, cada árvore, cada vento que sopra, carrega o perfume e a presença dela. A Rainha. Aquela por quem o Rei renunciaria mil vidas, só para viver uma ao lado dela.

Aqui, cada gesto, cada decreto, cada alvorada que se ergue nos céus, é uma homenagem à mulher que deu sentido à existência do trono. Vera Lúcia não é apenas soberana deste Reino, ela é o próprio motivo pelo qual ele foi sonhado, erguido e consagrado.

O Café que Esfriou e o Olhar que Aquecia – Capítulo 21