Contas – Contagens e Descontroles – Capítulo 22

A mesa da cozinha parecia um campo de batalha. Notas fiscais, recibos e planilhas se espalhavam em ordem alguma, exceto na cabeça da Rainha. Caneta em punho e sobrancelha arqueada, ela murmurava:

— “Aqui consta três idas ao mercado. Duas padarias. Uma compra de ferramentas. E esse gasto misterioso com… flores e chocolates às 22h?”

O Rei, encostado no batente da porta, coçou o queixo e respondeu com a serenidade de quem já tem resposta na ponta da língua, ou nos lábios:

— “Foi pra ti, lembra? No dia em que disseste que o mundo estava cinza. Eu quis te devolver o pôr do sol.”

A Rainha mordeu o lábio inferior, entre a irritação e o encantamento. Ainda assim, apontou a caneta:

— “Isso não justifica o descontrole. O orçamento do Reino não é feito de poesia!”

Ele se aproximou devagar, afastando com delicadeza a planilha, segurando-lhe a mão. Inclinou-se e aplicou um beijo preciso, bem no canto do sorriso que ela tentava conter.

— “Mas o nosso amor é. E até onde sei, beijo bem dado não entra na conta.”

Ela suspirou, derrotada no cálculo, mas vitoriosa no afeto:

— “Pois então, meu Rei, trate de amar com responsabilidade. Porque no mês que vem, quem faz as contas sou eu… e posso te cobrar juros em abraços.”

Contas, Contagens e Descontroles – Capítulo 22