O Despertador e os Beijos Interrompidos – Capítulo 31

O despertador tocou às 6h em ponto, com aquele toque insistente que ninguém mais tinha paciência para ouvir. A Rainha, com os olhos semicerrados e a voz rouca do sono mal dormido, esticou o braço e o desligou com um leve tapa. Resmungou algo ininteligível enquanto se virava para o outro lado da cama, puxando o lençol consigo.

Do outro lado, o Rei abriu um olho só, encarando o teto por alguns segundos antes de suspirar. O barulho de dois miados agudos foi o sinal de que os novos moradores do Reino já estavam de pé: os gatos pulavam sobre a cama como se fosse hora do festival real. Um deles tentou morder os dedos do pé da Rainha por debaixo das cobertas.

— “Eles não sabem o que é sábado?” ela murmurou, virando o rosto para a parede.

— “Hoje é segunda-feira” respondeu ele, já sentando na beira da cama e espreguiçando-se devagar, com um estalo nas costas.

Do corredor, ouviram um latido abafado. Os dois cães, adotados dias antes e ainda em adaptação, começavam a arranhar a porta da cozinha. Lá fora, o céu ameaçava chuva e as obrigações da casa esperavam por eles como um exército silencioso: louça do jantar anterior, ração acabando, roupa por lavar, lista de compras esquecida na geladeira.

— “Preciso sair mais cedo. Tenho reunião logo cedo e você disse que o gás tava no fim” disse o Rei, levantando-se com passos lentos.

Ela bufou, ainda sob o lençol, mas já acordada. “Então leva o lixo e vê se passa na loja pra comprar o filtro de papel. E olha a validade do iogurte. Tô achando que tá estranho.”

Ele vestiu a camisa amarrotada da cadeira e calçou os chinelos. Os gatos correram atrás dele até a cozinha, como dois pequenos guardas desorganizados. O café começou a subir no coador com um cheiro reconfortante, mas sem a poesia de outros dias.

— “Acordar assim, com você e nossos pequenos felinos por perto… é rotina.” murmurou ele para ninguém em particular.

Ela entrou na cozinha minutos depois, com os cabelos presos de qualquer jeito e os olhos ainda pesados. Sentou, pegou a caneca de sempre e disse:

— “Rotina ou não, o café tá fraco. Da próxima vez, coloca mais duas colheres.”

Ele assentiu em silêncio, enquanto os cães disputavam o lugar no tapete da cozinha e os gatos observavam tudo do alto da geladeira. A casa acordava, não com paixão, mas com barulhos normais, listas por cumprir e o som da vida seguindo.

No Reino de Veramor, nem todos os dias são épicos. Alguns apenas… começam.

O Despertador e os Beijos Interrompidos – Capítulo 31