O Banho Trocado por Afeto – Capítulo 32

O dia começou abafado no Reino de Veramor. O céu, pesado e promissor de tempestade, parecia segurar as nuvens por capricho. A Rainha caminhava descalça pela cozinha quando girou a torneira e… nada. Nem um fio de água. Apenas o som seco do encanamento frustrado.

— “Acabou a água de novo?” ela perguntou, já prevendo a resposta.

O Rei, que estava no quintal tentando consertar uma mangueira pela terceira vez na semana, respondeu da varanda:

— “A caixa deve ter esvaziado. Acho que o cano do jardim estourou de novo com aquele calor de ontem.”

Sem banho, sem chuveiro, sem previsão de retorno da água. Mas havia um sol forte lá fora, duas bacias grandes guardadas no galpão da horta, algumas garrafas de água mineral e, claro, a disposição de transformar o caos em uma pausa para rir da vida.

Enquanto os dois cães corriam em círculos no quintal, animados com qualquer movimento humano, os gatos observavam do parapeito da janela com a superioridade típica de quem jamais se molha sem permissão.

A Rainha surgiu minutos depois com toalhas, sabonete em barra e duas canecas coloridas.

— “Se é pra improvisar, que seja com estilo.” ela brincou.

O Rei montou tudo como se fosse um ritual rústico: uma bacia para os pés, outra para o tronco, garrafas posicionadas no sol para esquentar, toalhas dobradas sobre uma cadeira de jardim. Começaram com água morna nas mãos, molhando o rosto um do outro com cuidado, como quem lava também o cansaço do dia.

— “Tem dias que só o cuidado um com o outro já é o melhor banho.”, disse a Rainha, sorrindo entre uma risada e outra, com o cabelo preso de qualquer jeito.

O Rei concordou, espremendo um pouco de sabão nas mãos dela. Lavava os ombros com delicadeza, como se estivesse lidando com porcelana que conhecia há anos, e ainda assim, se encantasse a cada toque.

As risadas aumentaram quando um dos cães decidiu se juntar ao banho improvisado e enfiou o focinho na bacia, espalhando água e fazendo a Rainha se levantar, escorregar e quase cair sentada na grama. Foi salva por um abraço risonho do Rei e pela toalha que logo virou capa de herói para secar o estrago.

O banho não foi completo. Mas o afeto, esse sim, foi abundante.

E quando a água voltou à noite, ninguém teve pressa de correr pro chuveiro. Já tinham se lavado de outro jeito.

O Banho Trocado por Afeto – Capítulo 32