A Laranja Azeda e o Beijo Doce – Capítulo 49

O café da manhã começava entre risos e olhares preguiçosos. Os gatos já disputavam um lugar na toalha da mesa e os cachorros observavam atentos qualquer migalha que caísse. A Rainha, com os cabelos ainda desalinhados da noite, mas com o porte de quem nasceu soberana, morde uma fatia de laranja com entusiasmo. Mas bastou o suco atingir sua língua para seu rosto se contorcer em uma careta cômica.

O Rei não resistiu ao riso. Ela o olhou de canto, com um brilho travesso no olhar, e sem dizer uma palavra, levou os dedos à boca para limpar o sumo. Depois lambeu os próprios lábios com malícia estudada e se aproximou dele devagar, como se estivesse prestes a lhe contar um segredo. Mas em vez disso, o beijou com a boca ainda marcada pelo cítrico.

Ele fechou os olhos, rendido.

Ela sussurrou rente ao ouvido dele, quase como um feitiço: “O sabor da fruta engana. O meu, não.”

O Rei puxou-a pela cintura, segurando-a como se o mundo inteiro coubesse naquele instante. E respondeu baixinho, com a voz rouca da fome que não era de comida: “Esse gosto de verão só existe quando nasce da tua boca.”

Ao fundo, os cães latiam, correndo atrás dos gatos que decidiram brincar de pique-esconde com os pães da cesta. Mas nada, absolutamente nada, parecia importar. Porque entre uma laranja azeda e um beijo doce, o dia começava como devia: com o amor deles florescendo, cítrico, quente e inesperado, como o verão em pleno Reino de Veramor.

A Laranja Azeda e o Beijo Doce – Capítulo 49