O Rito da Gratidão e dos Aromas Sagrados

No Reino de Veramor, nem só de flores e olhares vive o amor. Vive também de rituais. E naquela manhã especial, antes do nascer completo do sol, o Rei e a Rainha acordaram mais cedo que os galos e mais leves que os sonhos.

No centro do salão, foi montado um pequeno altar. Uma toalha branca com bordados de folhas e luas cobria a mesa. Sobre ela, repousavam cristais de quartzo rosa, ametistas e pedras verdes de aventurina, todas energizadas sob a luz da lua cheia da noite anterior. O aroma de lavanda e sândalo se espalhava pela sala, vindo de incensos acesos com intenções de paz, amor e longevidade. Um frasco de óleo essencial de ylang ylang abençoava o ambiente com uma aura doce e profunda, enquanto gotas de laranja doce equilibravam o humor e despertavam a alegria.

Do lado de fora, no jardim ensolarado, os dois gatos se espreguiçavam com elegância felina em cima de um tapete de folhas, enquanto os dois cachorros corriam em círculos, como se também celebrassem algo invisível e sagrado.

A Rainha Vera, vestida com leveza e beleza serena, foi sentada pelo seu Rei numa almofada adornada com ramos de alecrim e pétalas de rosa. Ele, com um pequeno bastão de sálvia, fez uma defumação em volta dela, em círculos lentos, dizendo baixinho:

“Que a luz que habita tua alma nunca se apague, minha Rainha. Que teu corpo seja templo de saúde, tua mente lar de paz, e teu coração seja sempre meu altar de amor. Te celebro com cada gesto, com cada toque, com cada verso não dito. És meu encanto, minha força e meu destino.”

A Rainha, em silêncio, fechava os olhos, recebendo cada palavra como bênção. Seus dedos seguravam um cristal em forma de coração. Ela o ofereceu ao Rei, sorrindo com ternura:

“Que este cristal guarde tudo o que somos. E que a colheita seja sempre mais do que alimento: que seja afeto, cuidado, presença.”

Depois, com as mãos unidas, os dois caminharam até o pomar. Lá, colheram os primeiros figos da estação. Em seguida, regaram juntos os canteiros da horta com hortelã, alecrim, manjericão e erva-doce. Cada planta recebeu uma bênção, uma palavra doce, um cuidado mútuo.

Os gatos, entre as raízes, fingiam caçar folhas. Os cães, deitados na sombra, observavam como se entendessem a importância daquele momento.

Antes de voltarem ao palácio, o Rei ajoelhou-se diante da Rainha Vera, não por obrigação, mas por escolha. Beijou-lhe as mãos com devoção:

“Obrigado por me permitir ser teu. Por aceitar meu amor, meu zelo, minhas imperfeições. Por fazer deste reino algo sagrado com tua simples existência.”

A Rainha, como quem coroa o amor, tocou-lhe os cabelos com delicadeza, e respondeu com os olhos marejados:

“E eu agradeço por este amor que não me sufoca, mas me expande. Por me amar com doçura e firmeza. Por fazer do cotidiano um altar.”

E naquele dia, o Reino de Veramor não apenas floresceu. Ele se tornou eterno. Pelos rituais, pelos aromas, pelos gestos… e por esse amor que sabe se reinventar entre colheitas, silêncios e carinhos.

O Rito da Gratidão e dos Aromas Sagrados